Ouvi, finalmente, a famigerada entrevista ao jornalista, analista e escritor (ai o "Equador", livro de que gostei tanto), Miguel Sousa Tavares, a propósito da proibição, pós-referendo, das touradas na Catalunha.
Prestei atenção aos seus argumentos para fundamentar que a proibição dos touros de morte é uma estupidez e de que constitui uma falta de respeito pelas minorias.
Invoca que:
a) A circunstância de as touradas serem espectáculo sangrento não é razão para o proibir já que só vai ver quem quer, além de que esse fundamento levaria também à proibição do boxe, ou das corridas de automóveis (neste último caso porque podem ocorrer acidentes...);
b) Quem é a favor da proibição das touradas ignora a tradição das ditas;
c) As touradas são de tal beleza que muitos dos grandes pintores de Espanha pintaram obras magníficas inspirados no tema;
d) Pior do que assistir a touradas é presenciar um programa da televisão portuguesa: a Casa dos Segredos;
e) Se forem proibidas as touradas ninguém quererá criar os touros de morte já que os mesmos não dão boa carne e nem servem para nada a não ser para tourear, correndo-se o risco de extinção da raça;
f) À volta das touradas gira toda uma economia que ruirá no caso de o espectáculo ser proibido.
Agora digo eu: Alô???Sr. MST...
Aqui a fadinha também abomina boxe bem como o princípio que norteia a Casa dos Segredos: exploração da miséria humana, em nome de interesses económicos que a justifica (à volta da Casa dos Segredos também há muito dinheirinho a ganhar, olá se há, ele são os shares e tal...).
Passa-se, todavia, que há um pequenito pormenor que o senhor desconsiderou, mas que, mesmo sendo ínfimo, é essencial na problemática.
Vamos lá a saber:
Os intervenientes no espectáculo são todos tão voluntários como os voluntários espectadores?
I. é, assegura o senhor MST que quer toureiros, quer touros (e cavalos e chocas), etc., foram consultados sobre a sua vontade de participar no belíssimo espectáculo que tem sido objecto de magníficas obras de arte assinadas por Picasso ou Dali?
Assentirão os touros em que brinquem com eles em público (o que, pessoalmente, nem me choca sobremaneira) e também em deixar-se espetar no lombo com uma farpas de ferro (o que deveria arrepiar qualquer humano)?
Por mim, apesar de nunca ter tido a sorte, ao contrário de outros, de ter visto rir vacas, também nunca vi nenhum sinal de satisfação nos touros espetados. Pelo contrário, neste particular, costumo ver os animais a protestar de fúria e dor pelo ataque, abanado-se para tentar soltar a farpa que lhes espetaram no corpo.
É que, ao contrário do que se passa nos tais espectáculos miseráveis como a casa dos segredos e afins, ou no boxe, em que os alvos de violência são humanos, maiores de idade, supondo-se, pois, que neles participam voluntariamente, nas touradas não é assim. Neste último caso, os animais são sujeitos a práticas cruéis infligidas por humanos. Claro que por nobre razão: dá gozo.
Pois, é que a possibilidade de escolha que nós humanos vamos ainda tendo nalgumas matérias, não existe para os demais seres da natureza.
E não me venham com o argumento da alegada dignidade da morte dos touros na arena que é, desculpem-me, uma treta que não lembra a ninguém. Morte digna era no prado, preferencialmente de velhice.
Pessoalmente não tenho nada contra as touradas, desde que os touros sejam humanos voluntários, perseguidos por voluntários humanos, e se espetem farpas uns aos outros... Ou seja, já não falta nada, porque touradas destas também já temos e nem precisamos de ser voluntários para lhes assistir...
Sim, deve ser isso, senhor MST, o que me leva a dizer estas asneiras é ser estúpida, ignorante e insensível às coisas belas da vida. É isso, eu sei...
Uma nota de humor: