sábado, 31 de dezembro de 2011

Esperança




2011 está esgotado e deixou-me esgotada. Foi um ano difícil, com muitos acontecimentos funestos.
A poucas horas de 2012, quero esquecer as anunciadas dificuldades para o ano que se avizinha. Vou encher-me de esperança, de fé, mesmo que balofa, de que será um bom ano. Quero fechar um ciclo. Passar à frente.
Antevejo uma nova Primavera.





Bom ano de 2012 para todos.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Requiem para a minha mãe

25 de Dezembro de 2011

Hoje é Natal, nasceu o Menino e há mais uma estrela no Céu. A minha adorada mãe partiu e foi juntar-se ao meu pai, noutra dimensão.
D'ora em diante, se me sentir perdida, olharei para o Céu e nele encontrarei duas estrelas juntinhas, muito cintilantes, que me guiarão.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal

Agora sim, o Natal aproxima-se. Gostaria que todos os meus amigos pudessem passá-lo com o calor dos afectos. Preferencialmente com o calor dos afectos das pessoas especiais nas suas vidas. Com sorrisos ternurentos e compreensivos, suavemente ou com algazarra, mas sempre com o amor dos que nos amam. Gostaria que todos os meus amigos propagassem também esses contagiosos afectos em ondas. Oferecendo-os aos que deles os esperam, dividindo-o ainda com aqueles que não sonhavam recebê-los, sobretudo os que por qualquer razão se encontram mais fragilizados.
O Natal que desejo aos meus amigos é o mesmo que desejo para mim.
Feliz Natal.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Pedi cure

Hoje madruguei. A ansiedade produzida pela multiplicidade de tarefas que me esperam serviu de despertador.
Enquanto o forno termina o almoço que preparei para as crianças, em férias escolares, aproveitei para tirar os haveres que restavam na mala que trouxe de Cabo Verde. Entre eles, um livro de contos de Gabriel García Márquez, que viajou comigo, à cautela, não fora terminar a leitura do romance que estou a ler (ainda "A queda dos gigantes" de Ken Follett).
O livro de contos de García Marquéz já traz estória, que vos vou contar:
Numa das minhas passagens pelo hall do hotel, no Mindelo, com um livro na mão, um dos recepcionistas perguntou-me se eu gostava de ler. Face à minha afirmativa disse-me não gostar de ler, tendo eu aproveitado para lhe fazer o elogio da leitura, fazendo menção à sua utilidade e, sobretudo, ao grato prazer que pode proporcionar. Perante o meu entusiasmo, o rapaz disse-me que talvez nunca tivesse encontrado o livro certo, pelo que me dispus a ir ao quarto buscar um que seria decerto interessante e que, sendo composto por pequenos contos, era possível que ele gostasse de ler algum, durante a noite de vela que se preparava para fazer de atalaia aos hóspedes do hotel.
Trouxe-lhe o livro de Gárcia Marquéz e aconselhei-o a começar pelo conto que o intitula: "A incrível e triste história de Cândida Enrédia e da sua avó desalmada". Ele pegou-lhe e colocou um marcador no início da estória, tendo-se comprometido a mudá-lo para a página em que ficasse.
Na manhã do dia seguinte, o livro foi-me entregue pela colega que o substituiu, com o marcador no mesmo sítio em que ele o colocara à frente dos meus olhos. Não lera nada..
Tornei a pegar no livro agora e constatei que o marcador, um cartão de visita côr de salmão esbatida, tem o seguinte escrito:
           
             "Aracy Gomes
           
              Manicure, pedi   cure

              Telemóvel 924 91 13          S. Vicente"

Vou procurar a Aracy. Talvez queira ler o livro...

domingo, 18 de dezembro de 2011

O Natal

A que sabe o Natal?
Em criança sabia-me a férias escolares, a presépio e a presentes simples: uma boneca, um livro da "Anita", alguns chocolates, uma saia, uma camisola... Eram os presentes que os meus pais e os meus irmãos mais velhos conseguiam reunir para me rechear o sapatinho que colocava na véspera em cima do tampo do fogão (o menino Jesus havia de trazer as prendas pela chaminé).
No início de Dezembro começavamos, eu e o meu irmão mais novo, a planear o presépio que havíamos de fazer. A maior dificuldade era arranjar o musgo, que na cidade não abundava, mas que o meu irmão conseguia, afastando-se de casa em perigosa aventura para lugares que nos pareciam longínquos (1 km, talvez). As figuras de barro, embrulhadas em papel de jornal de uns anos para os outros, eram, além da sagrada família, uma vaca e um burro, um anjo, um conjunto de ovelhas e dois pastores (havia um cão de plástico que os acompanhava), uma lavadeira, dois patos (que colocávamos sobre um lago feito de papel de prata), uma ponte e uma igreja. Colocávamos tudo sobre um móvel cristaleira que, tendo um espelho, nos duplicava o tamanho do presépio encantado.Até ao grande dia, eu, e o meu irmão, passavamos horas de volta dele, a observá-lo e, de quando em vez, a colocar as figuras noutra disposição, mediante acordo, depois de aturadas discussões científicas sobre a bondade da adopção do novo arranjo. A nossa mãe advertia-nos que, com tantas mexidelas, a qualquer hora haviamos de quebrar as figuras.
Mais tarde, acrescendou-se ao presépio o pinheiro, não muito grande e sempre um pouco torto, os nossos pais, além de humildes eram poupados, pelo que não se abalançavam a investir muito dinheiro num pinheiro grande e direitinho, para jogar fora alguns dias depois.
À felicidade de experimentar as coisas que aqui descrevo somava-se a harmonia da família. Fomos sempre família feliz, sem desavenças.
A tristeza do Natal chegava-me pelas notícias da rádio que tinha na mesa de cabeceira do meu quarto. Lembro-me de, deitada na cama, depois da Ceia Natalícia, ouvir falar sobre os que nada tinham no Natal. Não tinham comida, roupas, ou família. Perante o conhecimento dessas situações tristes chorava muito e, no dia seguinte de manhã,às vezes ainda com os olhos inchados, enquanto me vestia, agradecia a Deus cada peça de roupa que colocava sobre o meu corpo.
Não sei a quem agradeço agora, mas continuo a agradecer, do mesmo modo que continuo a chorar por saber que há quem nada tenha.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Tá pensá á kretcheu

A minha maneira de amar-te é simples:
aperto-te a mim
como se tivesse um pouco de justiça no coração
e ta pudesse dar com o corpo

... Quando te revolvo os cabelos
algo de lindo nasce das minhas mãos

E não sei quase mais nada. Aspiro apenas
a estar contigo em paz e a estar em paz
com um dever desconhecido
que às vezes me pesa também no coração

Antonio Gamoneda
 
 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ná boka di nôte

Praça Nova, Mindelo, Ilha de S. Vicente

Estreei-me nesta ilha na passada sexta-feira. Ná boka di nôte fui jantar ao "Archote", o restaurante com música ao vivo que uma grande amiga me recomendara. Comi bem e apreciei a música. Entre os comensais encontrava-se o Prof. Adriano Moreira, que, à saída, presenteou os músicos com um aplauso junto deles e eles gostaram, que eu percebi.
Abanava-me ao ritmo daqueles sons calorosos, quando senti baterem-me nas costas e, olhando, vi que se tratava de uma senhora com aspecto de hippie dos anos 60, usava trancinhas parecidas com as da Pipi das meias altas, acompanhada por um senhor com ar semelhante e com uns óculos parecidos com os que Lenon habitualmente usava.
O casal estava sentado na mesa atrás da minha e queriam entabular conversa. Perguntaram-me, em inglês, se percebia o sentido das letras das canções que o grupo cantava. Eram suecos, de Estocolmo, e não faziam ideia do que diziam, mas adoravam a música. Respondi-lhes que não percebia todo o crioulo, que apesar de ser uma derivação do português nem sempre é compreensível para os portugueses, mas que as músicas falavam sobretudo de um sentimento a que chamamos saudade, ou sôdad, que consiste numa espécie de tristeza feliz, que resulta de boas lembranças e do desejo de viver coisas similares às que já foram, ou então de amor, de muito amor.
Ainda lhes traduzi para o inglês, a letra de uma morna ali cantada, que rezava assim:

"Ná ponta di mês lábios ten fogo di amor, ten mel di ábelha, ten paixão, ten calor, ten tentação di maçã, ten doçura, ten mistér.
Ná ponta di bôs lábios ten fogo di amor, ten mel di ábelha, ten paixão, ten calor, ten tentação di maçã, ten doçura, ten mistér.
Mê corpo istreméci nas nhas braços di krétcheu". Agora traduzam...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Amor

O mel-caramelo dos olhos é só parte da muita doçura. O silêncio do sorriso quente e terno completam o quadro.
Nunca nada alcança tão longe na alma como o silêncio reconfortante do amor.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A angústia da ignorância, ou talvez não

Vim visitar a AlmaFada, estava com saudades dela.
Tornou-se uma amiga a AlmaFada, muito consoladora, por sinal. Serve-me para nela despejar sentimentos vários, e não se queixa.
Quando a vida me corre mal logo penso que hei-de libertar a angústia ou a fúria nesta minha amiga. Coisas alegres ou fantásticas que me aconteçam, também me passa pela cabeça contar-lhas. Claro que na maioria das vezes não o faço, mas, outras vezes, sim.
A noite que passou resolvi que queria saber mais sobre Bach, sobre a sua música. De pc ao colo, no sofá da sala, pesquisei o que consegui, de artigo para artigo, na grande rede. Dediquei ao assunto umas cinco horas e fiquei com mais um cheirinho sobre o tema.
Depois de dormir duas horas (pude dar-me a esse luxo por estar de férias), cumprimentei o dia com a seguinte afirmação: "Sou completamente ignorante. Sei uma ínfima parte do conhecimento conhecido, quanto mais do putativo conhecimento".
Com esta constatação recorrente na minha vida, senti-me pequenina e impotente. Mas, depois de alguma reflexão, essa sensação deu lugar à alegria de perceber que, por muitos anos que viva, vou ter uma fonte inesgotável de seiva para me alimentar o espírito, sem qualquer risco de me deparar com o Nada para aprender.

P.S. Acho que o último sentimento que referi (o positivo) não passa de um remedeio para me conformar, sinto-me mesmo muito pequenina, pelo nada que sei e isso faz-me sentir tão insignificante... Pois, cultivar a humildade é A grande virtude.



domingo, 20 de novembro de 2011

Books

Gosto de livros.
Gosto de livros com muitas folhas de papel. Gosto, especialmente, de livros com muitas folhas de papel macio. Folhas de papel macio e mole.
Gosto mesmo daqueles livros que têm muitas folhas de papel macio e mole e que, colocando-lhes o dedo polegar da mão direita na extremidade lateral da última folha deixando-as cair todas até à primeira, me fazem cócegas no dedo, enquanto soltam um aroma gostoso a livro. Sim, a livro, não a papel. Os livros de papel não me cheiram a papel, cheiram-me a livro.
Enquanto as folhas tombam, os meus olhos captam palavras, frases, e eu, enebriada pelas cócegas do papel, pelo odor do livro e pela magia das palavras que contém, travo, aqui e ali,  com urgência, a queda das folhas, com repentina intervenção da mão livre, para atentar naquela palavra, naquela expressão.
Gosto de livros. Gosto de ter livros. Gosto de os ter perto de mim. Evito abandonar os meus livros na estante, dá-me pena tê-los longe, sinto-lhes saudades. Na verdade, tenho medo de os esquecer enquanto ali estão.
Gosto de livros, de os olhar, de lhes pegar, de os tocar, de os cheirar, de neles viajar.
Gosto de livros.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Bula-uê e o saxofone

Amanhã regresso à Europa, onde nasci. Segundo julgo, S. Tomé ficará definitivamente para trás. Desta vez pressinto que não voltarei a esta terra. A missão que me trouxe está concluída e não penso voltar por escolha minha, o mundo é tão grande...
Tornei a experenciar coisas novas. Alternei o trabalho que cá me trouxe com momentos de lazer, alguns bem diferentes dos que habitualmente vivo.
Substituí o tempo que habitualmente uso nas tarefas domésticas ou de dedicação aos meus, pela leitura. Passeei-me no "meu" jipe, numa condução surreal, para fazer frente às permanentes surpresas nas estradas. Além do apitar contante de tudo o que se desloca - carros e motorizadas com fartura - atravessam-se pessoas e animais, revelando grande calma nas travessias. A isto acrescem carros "estacionados" quase no meio da estrada; outros parados, literalmente, no meio da via com pessoas ao telemóvel, ou que, calmamente, conversam com alguém que se abeirou da viatura. Só vos digo, é de ficar de boca aberta. Mas, se estamos aqui, o melhor é mantermo-nos calmos e de coração aberto às diferenças. Temos de assumir a postura "leve-leve" da terra.
Tive óptimas experiências gastronómicas. Ontem jantei no Espaço Cacau. Um lugar de artes e utopias. A fruta-pão grelhada e frita, a banana esmagada frita, o frango grelhado maravilhosamente temperado, saladas e bolo de côco à sobremesa. E delicioso sumo de manga. Estava tudo fantástico. Os cozinhados foram feitos sob a égide do João Carlos Silva, pois é, o senhor do "Na roça com os tachos", que há anos passava na nossa Tv, programa que apreciava, estando eu, na altura, a anos-luz de saber que algum dia estaria neste local, com ele. Uma simpatia, diga-se. Ao ver-me só numa mesa convidou-me para a mesa dos artistas, como me disse, e que ele próprio integrava.
Após o jantar assisti a um espectáculo simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO: um grupo de homens e mulheres de Angolares (no sul da ilha) presenteou-nos com uma actuação composta por dança e cantares tradicionais, o bala-uê. Lindíssimo. Mas, o melhor, estava para vir, o nosso grande saxofonista Carlos Martins juntou-se ao grupo tradicional e juntou-lhe o som do Saxofone, num deslumbrante improviso que deixou o público embasbacado. O ambiente? Ar livre, noite quente, luz de velas, luar e muiiitas estrelas.
No final da noite um convite para uma aula de yoga, esta tarde, no mesmo espaço.
Sobre a aula? Amei.  Uma aula especial, ali estive a fazê-la com toda a verdade, no meio dos artistas.Sim, nela participaram o Carlos Martins e um monte de músicos e artistas plásticos que pululam naquele espaço cultural. Fiquei com o contacto da professora, vive perto de mim...
A seguir fui para o jantar de S. Martinho no Xico's Café, com música ao vivo...
Volto para casa em sintonia com o Universo.
Ai, caros leitores, hoje estou tão pouco inspirada para a escrita e com tanto sono... Mas queria contar isto, mesmo em cima do acontecimento.
Á bientôt...

domingo, 6 de novembro de 2011

Crónica de S. Tomé

Hotel Miramar, 6 de Novembro de 2011

11ª missão em África, 4ª em S. Tomé.

À chegada tudo igual, com excepção das crianças vendedoras de artesanato que, contrariamente ao habitual, não apareceram no aeroporto.
O cansaço que emigrou de Lisboa comigo, acrescentado com o ganho sobre o Atlântico, em mais 6 horas de voo nocturno num avião à pinha, aterrou intacto nesta ilha paradisíaca e entrou no quarto 201. Caímos na cama, sobre a colcha, cobertos pelo mosquiteiro e adormecemos.
Às 13 h, de 6ª feira, depois das 4 horas dormidas,  fui à Embaixada de Portugal buscar o jipe a cair aos pedaços em que costumo fazer-me transportar na ilha e rumei ao trabalho. Até às 17h30 duas reuniões a partir pedra e, depois, a liberdade.
Às 19h, depois de visita a loja de artesanato e de uma proposta de casamento (a primeira nesta incursão), lá fui espreitar o buffet. Resolvi que eu, a fome e o cansaço jantaríamos às 20h, até lá um duche e um pouco de repouso sobre a cama. Acordei às 4h30, ainda com a fome, o cansaço fora aproveitar a noite em saída vadia, mas deixara ficar a sede, sem gota de água para beber. O pequeno almoço seria servido a partir das 6h30.
Todo o sábado (com excepção de duas horas de trabalho) li e dormi, mergulhei e dormi, apanhei sol e dormi, comi e dormi.
O cansaço foi-se embora, espero que fique por cá. Fiquei sozinha e, desculpem o narcisismo, adoro a minha companhia. Não me falta aqui nada.
Amo a sensação de liberdade que me proporciona o não dar contas a ninguém, de nada combinar com ninguém, de ser uma completa desconhecida em terras longínquas. Gosto de comer sozinha, de estar só na piscina....Adoro.
Hoje ao pequeno-almoço reparei que na mesa do lado direito estava o cantor João Afonso, integrado num grupo. 15 minutos depois, deitada na espreguiçadeira a ler o empolgante romance que veio comigo, os meus ouvidos encheram-se com a música do cantor que, ao meu lado, tocando guitarra e cantando uma música alusiva à vida "leve-leve" de S. Tomé, gravava.
 Saí da piscina encharcada pela chuva tropical que caiu e refrescou o ar quente.

A Ana que estava em Lisboa na passada 5ª feira já não existe. Foi-se o stress.
O destino da Grécia e da eventual coligação entre o PASOK, acusado de nepotismo e corrupção, com o mentiroso e ludibriador, partido de direita; as declarações disparatadas do Secretário de Estado da Juventude de Portugal que devia ter emigrado e que, para mal dos nossos pecados, não o fez; a ditadura dos números do Ministro Gaspar alheada de sentido ético, tornaram-se, por ora, quase insignificantes.
Os passarinhos estão a cantar...
Inté...

sábado, 29 de outubro de 2011

Equador

Quase de partida.
Torno a a encharcar-me de ti. Escorrer-me-ão gotas de suor pelo corpo húmido e mergulharei nas águas cálidas.
Experimentarei o breu intenso e o sol escaldante.
Já te sinto o aroma, África.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Bruxa maléfica

Conhecem o meu aspecto de fada, certo? Sou igualzinha ao desenho que aqui aparece. Assim branquinha, cabelos loiros, cheiinha, mais sorridente do que apareço no desenho. Costumava ser tolerante, complacente, indulgente e bondosa. Tudo isso para a generalidade das pessoas. A sério.
Acreditava que fomentar em nós os ditos sentimentos positivos era bom, para nós e para os que nos rodeiam. Até acreditava que a bondade se propagaria em ondas e que, dessa forma, os bons sentimentos que fomentasse em mim, seriam contagiados aos que comigo se relacionassem que, por sua vez, os contagiaram também.
Tretas, isto são tretas.
Agora sinto-me perseguida. Sou alvo de uma autêntica caça à bruxa. Não será uma caça direccionada só para mim somos muitos os perseguidos, mas resolvi assumir pessoalmente as dores e, em conformidade, vou passar a agir como bruxa, a perseguida. Para sobreviver aos perseguidores, vou passar a perseguir.Vou ser uma verdadeira bruxa maléfica para os meus inimigos.
Persistirei querida e maravilhosa para os bons, mas serei impiedosa, implacável e,até vingativa para os maus.
Quem são os maus? Os meus inimigos. Quem são os meus inimigos? Aqueles que eu eleger como tal, de acordo com os meus próprios critérios.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Esvaziando

Que saudades, que saudades de ser "só" uma fadinha doce e bondosa.
Que saudades de ter o coração sempre transbordante de emoções cintilantes.
A varinha está a amachucar a tristeza, o medo, a angústia, a insegurança, que tomou conta da alma da fada, para os tornar pequeninos, dando espaço para crescer a alegria, a paixão e a confiança.
Sabem qual é o segredo? Estou a esvaziar o coração de política e economia e a enchê-lo com o mel dos meus amores.

domingo, 23 de outubro de 2011

Hoje sou bébé...

Buáááá...buaáááá...buaáááá. Há um ano chorava assim, no momento em que nasci.
Apareci para ser o esconderijo de alguém (hão-de ver o primeiro post) e já vieram ver-me mais de 5250 vezes.
Nunca sonhei com tamanha popularidade, hihihihi... Como podia imaginar que mais alguém, além da Saiuri, poderia interessar-se por saber o que se passa aqui, neste canto?
 É que a Saiuri nem sempre é flor que se cheire...às vezes tem cá um feitiozinho... vem p´raqui com os azeites e, pessoal, aviso-vos, nesses dias é melhor fugir dela. Outras vezes, aparece toda dengosa, é só meles e doçuras... Nuns dias está inspirada, noutros exaurida, às vezes cansada, mas mostra a alma sempre genuína.
Hoje está querida, fez-me este bolo e cantou-me uma canção....Ai...ai...




quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O fim do mundo...

A seita norte americana que prevê o fim do mundo para amanhã talvez tenha uma ideia concreta de como será o seu fim. Pela água? Pelo fogo? Será desta que um dos tais meteoros atinge a Terra? Não faço ideia, nem tenciono investigar.
O que sei, segurinho, segurinho, é que se a Fraulein Merkel e o seu ajudante Monsieur Sarkozy não põem mão no futuro da Europa, sim eles, já que não querem a ajuda de mais ninguém, o nosso mundo acaba, olá se acaba. Não tarda estamos a trabalhar e a auferir tanto como os chineses, para ser competitivos e ...agradar aos mercados.
Perceberemos então, na perfeição, como o "dumping social" que tem feito desenvolver a China e outros, nos assenta que nem uma luva. Foi bom, não foi? Foi comprar baratinho, à custa da escravatura asiática e da ausência de taxas de direitos aduaneiros para os produtos vindos daquela zona do globo. A Europa foi tentando controlar o dumping, o económico, mas ao social o mundo não lhe pôs travão, ah e tal...e foi assobiando para o lado.
As nossas indústrias estão lá, ou nas redondezas, onde a receita aplicada foi a mesma.
Agora, o Portugalito que tudo perdeu (industria têxtil, sobretudo) chucha no dedo...
Agora, os tais gigantes asiáticos, poderosos como estão, já têm políticas comerciais preparadinhas para fechar as portas aos produtos europeus.
O mundo acaba amanhã? O nosso já acabou.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Os bombardeamentos intensificaram-se, vamos para os abrigos.


O conhecimento do OE para 2012 pôs-nos, a muitos, em estado de choque. 


Claro que estávamos preparados para muito, as medidas que já tinham sido adoptadas, como a redução de salários dos funcionários públicos, o aumento da taxa do IVA no gás e na electricidade, que, já estando em vigor, ainda não sentimos nos bolsos, a criação de um imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal de 2011, e outras, conjugadas com as declarações do Senhor Ministro das Finanças de que o pior estava para vir e de que o OE para 2012 seria dos mais difíceis da história do país, fazia-nos antever que nada de bom aí viria. Sucede que, entre profecias e a realidade vai sempre uma longa distância. É assim como a certeza da morte e a sua apresentação iminente. E, no que ao Orçamento diz respeito, está aí, já não restam dúvidas. Este Orçamento vai gerar, necessariamente, uma catástrofe.


Não será uma catástrofe para todos, nestas coisas da economia há sempre uns quantos que se safam, alguns melhor do que nunca. Mas, a maioria, verá a sua vida arrasada, pelo menos por décadas, prevejo que muitos de nós para sempre.A "suspensão" do pagamento dos subsídios de férias e Natal para trabalhadores do Estado e pensionistas que aufiram mais de € 1000 mensais (sendo que tal valor é ilíquido), que o Senhor Ministro anunciou como sendo uma "medida de carácter temporário mas duradouro" (percebo que o senhor Ministro não queira anunciar o que provavelmente se lhe afigura, que tal medida deverá tornar-se definitiva, nem que seja pela necessária aprovação de norma anual, em todos os OE para o futuro), vai determinar que muitas pessoas não possam continuar a honrar muitas das responsabilidades que haviam assumido.De facto, a maior fatia das pessoas não canalizava os ditos subsídios para luxos ou férias, mas para colmatar despesas que não conseguiam suprir com o rendimento que recebiam mensalmente. Pagamentos de impostos, como o Imposto Municipal sobre Imóveis , cuja taxa também subirá 0,1%, a partir de Janeiro (o que parecendo pouco leva a que, sem considerar a actualização do valor dos imóveis, alguém que pagasse € 800/ano passe a pagar €1000/ano ), seguro da casa em que as pessoas habitam, seguro de carro, livros e material escolar de crianças, eram, em muitos casos, supridos com os valores dos ditos subsídios.O IVA vai aumentar para muitos produtos, aumentarão transportes e electricidade, a corda esticará até rebentar.


Os cuidados de saúde piorarão, seguramente, acabar com algum desperdício não será suficiente para eliminar a necessidade dos milhões que este OE poupa no sector. O mesmo acontecerá com a educação.


Ah, e desenganem-se aqueles que trabalham no sector privado, alguns dos quais, já assisti, festejam alegremente o sacrifício imposto aos funcionários públicos, os geradores de todas as desgraças nacionais. É que, malogradamente, e oxalá me engane, nada perderão pela demora. Ou sob a mesma forma, ou de outra qualquer, sofrerão, inexoravelmente, o impacto da bomba nas suas vidas -a redução do consumo interno vai ser brutal, vão fechar muitas portas... Será melhor, pois, não deitarem os foguetes antes da festa.


O nosso Governo afirma que não tinha alternativa, vou dar de barato que nesta fase não tinha. 
Os buracos são mais do que muitos. 


Revolta, porém, não se vislumbrar alterações na tributação do sistema financeiro.O contexto internacional é péssimo e, internamente, houve muito desgoverno, não duvido. Houve muito quem se tivesse aproveitado, gozando agora nos seus palácios dourados, alguns continuarão a lucrar, e muito, com a coisa pública. Quanto à maioria de nós seremos peões mal pagos, pobres e doentes.


Em muitos campos ficaremos pior do que estávamos no início da década de 70 do século passado, pois o desespero poderá ser maior, já que as pessoas vivem o drama de se terem responsabilizado por encargos que legitimamente esperavam poder cumprir e que, agora, não podem.


A globalização está a empurrar-nos para o abismo. Estamos obrigados a comprar submarinos e óleo alimentar manhoso à Alemanha, que outra vez se impõe aos demais países da Europa, arrogantemente.


O dumping social praticado nos agora ditos países com economias emergentes está a destruir definitivamente o Estado Social, pelo menos conforme o conhecíamos. Pois é, entregámos a indústria têxtil à China (Uruguay Round), a pesca a Espanha, a agricultura à Europa em geral. O que nos resta? Uma mão cheia de nada.


Não sei se este desabafo encaixa na esquerda, na direita, ou em lado nenhum, mas também não me importa.

sábado, 15 de outubro de 2011

Artistando

Os desenhos da minha menina estão cada vez mais bonitos. É observadora, imaginativa, criativa, sensível, persistente. Não sei de onde lhe vêm tais genes, mas abençoado seja quem lhos transmitiu.
Hoje fez este desenho:



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Forrar o buraco

Nunca me senti tão honrada. É verdade, nunca me senti tão honrada. Dá-me gozo saber que 25% do salário a que tenho direito pelo trabalho que desempenho, vão ser directamente canalizados para forrar o buraco do Alberto João. Que maravilha.
Ah e o gozo que me dá, aspirar a que parte daqueles valores poderão servir, não para encher, não sonho tão alto, mas, ao menos,  para almofadar o buraco dos amigos do BPN.
Sim, a minha massa não se destinará a desígnios ignóbeis, como pagar reformas dos miseráveis. Não, isso não é coisa para mim, pfff, pobres, que raça! Não sou pindérica nenhuma, o que é isto?
O meu dinheiro só se dá bem com os ricos: bons buracos, paraísos fiscais, carrões, quintas, obras de arte e eventos, muitos eventos.
Comigo é tudo à grande!

Fomos ricos

"- Fomos ricos.
    Tínhamos casa boa.
    Tivemos carro e andar de carro era bom.
    Deslocávamo-nos ao supermercado, para comprar coisas de uso doméstico e levávamos um carrinho   que empurrávamos, no qual colocávamos os produtos que entendíamos necessitar. Tomávamos banho diário e também usávamos roupas lavadas, todos os dias.
   Às vezes íamos ao cinema, ao cabeleireiro, à massagem... Gostávamos de comprar música e livros..."
"- Foi há muito tempo, avó?"
"- Há uma dúzia de anos, minha querida".

terça-feira, 11 de outubro de 2011

100% ou 75%?

Tenho a sensação de que os governantes quando querem adoptar medidas políticas daquelas que doem a valer à maioria dos cidadãos, lançam a bisca para preparar o povinho e permitir que a descompressão comece antes de a medida ser efectivamente tomada.
Já se vai sussurrando que, em 2012, não serão pagos subsídios de férias nem de Natal. Assim, se cortarem "apenas" 75%, o povo regozijará com a generosidade dos nossos líderes políticos.
Fala-se já, à boca cheia, que os produtos a que se aplicam as taxas mínima e intermédia do IVA, passarão a ser tributados à taxa "NORMAL". Quando nos derem a benesse de manter os 6% de IVA para o pão, faremos uma festa.
E assim (ia dizer aos poucos, mas é mesmo de forma abrupta) passaremos a ser um povo paupérrimo.
Comparo-me sempre com quem tem menos e costumo afirmar que, apesar de tudo, pertencemos à pequena percentagem de privilegiados entre os cidadãos do mundo, mas começo a indagar-me até quando... 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Maturidade

A consciência da minha finitude aguça-me o apetite pelo bom e o belo da vida.
Cada vez aprecio mais o doce néctar que posso colher, mesmo que ínfimo face ao fel que tenha de tragar.
O valor de um instante de paz ou de prazer, de um sorriso ou gargalhada, torna-se, com a maturidade, inestimável.

sábado, 1 de outubro de 2011

Midnight in Paris ou a paciência de Jó

Hoje saí de casa aperaltada e dirigi-me a uma sala de cinema à séria, para assistir a um filme fora da saleta doméstica, onde costumo ver cinema de camisa de noite ou pijama.
A película escolhida foi a última de Woody Allen, "Midnight in Paris".
Filme típico do realizador, o argumento gira à volta de um escritor americano, de passagem por Paris, com desejo de se fixar nesta cidade. O protagonista vive o presente com a nostalgia de não ter podido viver na década de 20 do século passado, escrevendo um livro cheio de conteúdo nostálgico. Como por magia, a partir da meia noite enceta viagens ao passado, aí contactando com outros personagens, alguns dos quais ilustres figuras reais que efectivamente viveram na cidade Luz: Matisse, Picasso, Gauguin, Hemingway ou Cole Porter, entre outros, acabando por se aperceber que, tal como ele próprio, também os antepassados contemporâneos daquela que considerava ser a época áurea, viviam a melancolia de tempos anteriores.
Gostei do filme.
Do que não gostei mesmo nada, foi de ter de esperar 25 minutos entre a hora para que estava marcado o início da sessão e o seu efectivo arranque. É que durante 15 longos minutos os espectadores foram sujeitos à visualização de publicidade, seguidos de 10 minutos de apresentação de "trailers" de outros filmes.
É certo que a sala estava quase vazia o que leva a crer que o valor dos 6 bilhetes que foram adquiridos para aquela sessão não cobriram sequer os seus custos. Mas 15 minutos de publicidade? Não percebem que deste modo esgotam mesmo a paciência do público e que o mais certo é que desista de sair do seu sempre disponível cinema caseiro?
Não sei qual é a solução para sustentar este género de espectáculo, mas sei que ao bombardear as pessoas com tanta publicidade se arriscam a perder o público de vez. Ninguém há-de estar muito interessado em gastar 15 minutos do seu precioso tempo a suportar publicidade que na sua casa dispensa.
Vá, cheguem atrasados, mas vão ver o filme, o tema é interessante, tem bonitas música e fotografia ( a linda Paris, huuummm que saudades...), adorei o guarda roupa e tem finas notas de humor.
Ah e Woody Allen sempre é Woody Allen...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Toureiem-se voluntários, digo eu...

Ouvi, finalmente, a famigerada entrevista ao jornalista, analista e escritor (ai o "Equador", livro de que gostei tanto), Miguel Sousa Tavares, a propósito da proibição, pós-referendo, das touradas na Catalunha.

Prestei atenção aos seus argumentos para fundamentar que a proibição dos touros de morte é uma estupidez e de que constitui uma falta de respeito pelas minorias.

Invoca que:
 a) A circunstância de as touradas serem espectáculo sangrento não é razão para o proibir já que só vai ver quem quer, além de que esse fundamento levaria também à proibição do boxe, ou das corridas de automóveis (neste último caso porque podem ocorrer acidentes...);
b) Quem é a favor da proibição das touradas ignora a tradição das ditas;
c) As touradas são de tal beleza que muitos dos grandes pintores de Espanha pintaram obras magníficas  inspirados no tema;
 d) Pior do que assistir a touradas é presenciar um programa da televisão portuguesa: a Casa dos Segredos;
e) Se forem proibidas as touradas ninguém quererá criar os touros de morte já que os mesmos não dão boa carne e nem servem para nada a não ser para tourear, correndo-se o risco de extinção da raça;
f) À volta das touradas gira toda uma economia que ruirá no caso de o espectáculo ser proibido.

Agora digo eu: Alô???Sr. MST...

Aqui a fadinha também abomina boxe bem como o princípio que norteia a Casa dos Segredos: exploração da miséria humana, em nome de interesses económicos que a justifica (à volta da Casa dos Segredos também há muito dinheirinho a ganhar, olá se há, ele são os shares e tal...).

Passa-se, todavia, que há um pequenito pormenor que o senhor desconsiderou, mas que, mesmo sendo ínfimo, é essencial na problemática. 

Vamos lá a saber:

Os intervenientes no espectáculo são todos tão voluntários como os voluntários espectadores?

I. é, assegura o senhor MST que quer toureiros, quer touros (e cavalos e chocas), etc., foram consultados sobre a sua vontade de participar no belíssimo espectáculo que tem sido objecto de magníficas obras de arte assinadas por Picasso ou Dali? 

Assentirão os touros em que brinquem com eles em público (o que, pessoalmente, nem me choca sobremaneira) e também em deixar-se espetar no lombo com uma farpas de ferro (o que deveria arrepiar qualquer humano)?

Por mim, apesar de nunca ter tido a sorte, ao contrário de outros, de ter visto rir vacas, também nunca vi nenhum sinal de satisfação nos touros espetados. Pelo contrário, neste particular, costumo ver os animais a protestar de fúria e dor pelo ataque, abanado-se para tentar soltar a farpa que lhes espetaram no corpo. 

É que, ao contrário do que se passa nos tais espectáculos miseráveis como a casa dos segredos e afins, ou no boxe, em que os alvos de violência são humanos, maiores de idade, supondo-se, pois, que neles participam voluntariamente, nas touradas não é assim. Neste último caso, os animais são sujeitos a práticas cruéis infligidas por humanos. Claro que por nobre razão: dá gozo. 

Pois, é que a possibilidade de escolha que nós humanos vamos ainda tendo nalgumas matérias, não existe para os demais seres da natureza. 

E não me venham com o argumento da alegada dignidade da morte dos touros na arena que é, desculpem-me, uma treta que não lembra a ninguém. Morte digna era no prado, preferencialmente de velhice.

Pessoalmente não tenho nada contra as touradas, desde que os touros sejam humanos voluntários, perseguidos por voluntários humanos, e se espetem farpas uns aos outros... Ou seja, já não falta nada, porque touradas destas também já temos e nem precisamos de ser voluntários para lhes assistir...

Sim, deve ser isso, senhor MST, o que me leva a dizer estas asneiras é ser estúpida, ignorante e insensível às coisas belas da vida. É isso, eu sei...


Uma nota de humor:



quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Perdoar e esquecer

 É curioso constatar que não inventamos nada. Parece que tudo o que pensamos já foi antes pensado. Concordo, plenamente, com o teor do texto que aqui deixo.



"Perdoar e Esquecer



Perdoar e esquecer equivale a jogar pela janela experiências adquiridas com muito custo. Se uma pessoa com quem temos ligação ou convívio nos faz algo de desagradável ou irritante, temos apenas de nos perguntar se ela nos é ou não valiosa o suficiente para aceitarmos que repita segunda vez e com frequência semelhante tratamento, e até de maneira mais grave. Em caso afirmativo, não há muito a dizer, porque falar ajuda pouco. Temos, portanto, de deixar passar essa ofensa, com ou sem reprimenda; todavia, devemos saber que agindo assim estaremos a expor-nos à sua repetição. Em caso negativo, temos de romper de modo imediato e definitivo com o valioso amigo ou, se for um servente, dispensá-lo. Pois, quando a situação se repetir, será inevitável que ele faça exactamente a mesma coisa, ou algo inteiramente análogo, apesar de, nesse momento, nos assegurar o contrário de modo profundo e sincero. Pode-se esquecer tudo, tudo, menos a si mesmo, menos o próprio ser, pois o carácter é absolutamente incorrigível e todas as acções humanas brotam de um princípio íntimo, em virtude do qual, o homem, em circunstâncias iguais, tem sempre de fazer o mesmo, e não o que é diferente. (...) Por conseguinte, reconciliarmo-nos com o amigo com quem rompemos relações é uma fraqueza pela qual se expiará quando, na primeira oportunidade, ele fizer exactamente a mesma coisa que produziu a ruptura, até com mais ousadia, munido da consciência secreta da sua imprescindibilidade." (o destaque é meu).

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Medo

Ocorreu-me agora que o medo que nos protege dos abismos é o mesmo que nos tolhe a ousadia.
O medo que nos salva das loucuras, trava-nos também a aventura.
O medo que nos impede de correr riscos, paralisa-nos a audácia.
Para ser feliz, preciso de viver no ponto de equilíbrio em que se situa o medo que me ampara, sem me castrar a coragem.

There is life before death

A existência ou não de vida para além da morte é assunto que tem sido objecto de reflexões e discussões, desde tempos imemoriais.
Por mim, crendo que não há vida para além da morte, é matéria que não me ocupa o pensamento, aceitando a minha crença sem qualquer angústia.
Com a mesma serenidade, e com alegria, acredito na existência da vida antes da morte.
Creio que essa vida acontece na sequência de uma complicadíssima teia de coincidências de que resultam seres únicos e irrepetíveis.
Sinto-me um desses seres, um dos tremendos acasos do Universo. NEle, depois de findar a vida que me anima, permanecerá eternamente (seja lá isso o que for) a matéria que agora me constitui.
Passados que estão os verdes anos da vida que me calhou, quero, cada vez mais, vivê-la sintonizada com esse Universo. Sou ainda aprendiz, mas sinto-me no bom caminho.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Resiliência

Esquece. disse.
Como esqueço? De que modo esqueço o inesquecível? Apago-o da memória, sem mais? Com que instrumento? respondeu.
Substituis essas memórias por novas experiências, que ocupem o mesmo espaço.
E isso é possível?
É.

Multiplicidade

Entra-me pelos sentidos o mundo, pelos poros. Tenho dificuldade em absorvê-lo, por ser tanto.
Entrego-me inteira.
Tantas dimensões que tem o mundo, sinto-me de todas. 
Viver é experienciar o Ser, nesta multiplicidade.

domingo, 18 de setembro de 2011

Hoje acordei assim

Enoja-me saber que a maioria de nós não passa de instrumento para o enriquecimento ilícito de alguns. É para isso que pagamos. E custa, sobretudo, porque o que pagamos nos sai directamente das entranhas, pelo trabalho que produzimos com esforço, às vezes com sacrifício. 
Os impostos que entregamos, em lugar de servirem para suportar os custos dos serviços que o Estado nos devia prestar, servem, cada vez mais, para pagar os buracos sem fundo sitos nos paraísos (fiscais ou outros) dos espertos e juros usurários. 
Cada cêntimo que nos esbulham para suportar a nacionalização do BPN, por exemplo, cai, inteirinho, na conta de um pançudo qualquer, seguramente fora do país.
Entregaremos brevemente o "fillet mignon" aos interesses privados que já se acotovelam para se afiambrarem (pensemos nas rotas apetecíveis da TAP- Brasil, Angola...).
Destrói-se a incómoda classe média, há-de ser taxada e humilhada até ao seu desaparecimento. 
Pois é...são perigosos os que lêem.
Hoje acordei assim. Agora chamem-me o que quiserem.



sábado, 17 de setembro de 2011

Baile de palavras

Compunha, se o soubesse, textos ricos de expressão.
Enrolaria as palavras, envolvidas em sentimentos e despidas de razão.
Nomes, verbos, adjectivos... com toques de pontuação.
O tom, dava-o a emoção.
No fim soltava ao vento o harmonioso encadeado das palavras, que bailariam, bailariam...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O banco

Primeiro...não, segundo...também não, terceiro...está quase.
Sentou-se e pousou a bengala. Era o quarto, o seu banco. Havia seis meses que ali se sentava, todos os dias, à mesma hora. No banco da frente a velha do costume.
Aos pés rodopiavam-lhe folhas secas, das árvores quase nuas.
Abriu o jornal, na página da necrologia, procurando nomes conhecidos, já ali encontrara muitos, o último, havia dois dias, o do Martins, rapaz do seu ano e companheiro da tropa. Fora-se. Mais um. Hoje não reconheceu ninguém. Desinteressou-se do periódico.
Vida maldita. Fingira acreditar no filho, coitado, que a casa era pequena, que o miúdo crescia e tudo se complicava. Eram as pingas, dizia ela, as migalhas, a roupa, que fedia e estava farta, ou ele ou eu, escolhe, bem ouvira.
Pegou na bengala, regressou, iam servir o jantar.
No banco ficou o jornal, ainda sem o seu nome.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ai que nervos

Ai, não sei se o meu coração vai aguentar, não sei. Nem consigo imaginar a Luz, à pinha, a gritar pelo glorioso.
Ai, que se o Manchester der um baile à equipa da águia, saio triste, como a noite.
Ai, que se o Benfica ganhar ainda me dá uma coisinha, à pala da emoção.
Ai, que Deus me ajude.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Intolerante

 Dificilmente me sinto magoada.
 Só as pessoas significativas têm a susceptibilidade de me magoar e essas, geralmente, não o fazem. 
É que, para me sentir magoada, tem de existir uma acção maldosa intencional de quem eu repute de importante, sem um subsequente pedido de desculpa. Talvez por tanta exigência da minha parte, tenha sido magoada poucas vezes. 
Concluo, pois, que sou intolerante com as mágoas.





sábado, 10 de setembro de 2011

Benfica-Manchester

Sabem o que acabei de fazer, sabem? Tchananam.... comprei bilhetes para o futebol! Oh yé, já cá cantam.
Na próxima quarta feira vou, pela primeira vez na vida, pôr os pés na Catedral! E logo para ver um Benfica - Manchester, sem ser a feijões.
Vai ser uma emoçãoe carágo! Já me estou mesmo a ver a olhar para a águia a voar e a entoar SLB, SLB, SLB,SLB,SLB, glorioooso, SLB, glooorioso; SLB; e tudo o mais que for adequado ao momento. Vou gritar tanto que vou voltar rouca, oh se vou (tenho é de ter cuidado não vá o entusiasmo dar-me para a insatisfação com algum dos adversários (ou com o árbitro, que é a mesma coisa, hehehe) e sair-me algum impropério indigno de uma senhora. 
Aie... mal posso esperar.
Se ganharmos saio feliz que nem um cuco, se perdermos saio feliz que nem um cuco e a dizer (mais ou menos dez vezes): "Oh, que pena, foi giro, mas oh, que pena...". (depois venho aqui contar).
SLB, SLB, SLB,SLB,SLB, glorioso, SLB, glooooriooooso, SLB.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Virtualmente falando

O que é mesmo bom neste mundo virtual é que se fazem e desfazem afectos à distância de um clique.
Não acham fantástico? 
Antigamente, construir relacionamentos complexos, como amizade ou amor, era trabalho árduo e moroso. Por qualquer razão as pessoas encontravam-se e, depois, passavam-se muitos dias e vários convívios posteriores, até que descobrissem que eram amigos, ou que haviam construído outro tipo de relação. Em muitos casos, apesar de tudo, as pessoas consideravam conhecer-se apenas "de vista", se os contactos tinham tido pouco aprofundamento.
As distâncias eram quebradas por cartas, bem pesadas, mais pelo conteúdo do que ficava por dizer do que pelo que figurava escrito.
Se se perdia um amigo ou um amor, ficava-se a remoer no sucedido. Era quase assunto de Estado.
Tristes tempos aqueles. Tudo complicadíssimo. 
Agora é que é bom. Com meia dúzia de cliques, ganham-se meia dúzia de amigos. E, à distância de um clique, eliminamos definitivamente alguém das nossas vidas. A pessoa esvai-se, pura e simplesmente, da nossa existência.
Esses amigos que nos ganham com cliques, também são livres. Eliminam-nos com outro clique e pronto. Nada mais fácil. Amizades e, até, amores constroem-se e destroem-se, assim, rápida e eficazmente, sem deixar mossa. Ah e a granel.
Digam lá que não é fixe, hein?  

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

De-lírio

Quero uma casinha branca pequenina, no meio de um prado verde, pintalgado por papoilas, lírios e açucenas e, da minha janela, (continuar) a ver nascer o sol.
Sonho passar os dias a plantar, cuidar e colher.
De corpo cansado, vou deitar-me na rede e ler. Não, não quero escrever. O que sei eu, para ter a arrogância de escrever?
Sonho a calma, a serenidade. Só um nicho de afectos.


Prozac

Isto não vai acabar bem, dizia um amigo. Pois, isto não vai acabar bem. Seja lá o que "isto" for. Pensava no país ele, acho.
Hoje foi uma terça feira negra nas bolsas europeias, sobretudo na nossa.
Há dias subiu o IVA para o gás e para a electricidade. Não foi muito, só 17%. Que significado pode ter 17% de aumento num imposto? Nenhum.
Os transports também aumentaram, mas muito pouco, 15%. Trocos. Tudo trocos. Os salários foram reduzidos, mas quase nada, apenas uns míseros 5%. 5%, o que é isso? Pfff.
Isto não vai acabar bem, dizia o meu amigo. Nem sei porquê.
Então não temos o Serviço Nacional de Saúde? Que bom, temos saúde para todos. Vamos ao médico pedir Prozac, andaremos animados. Rebolaremos de riso com o anúncio do aumento dos impostos e redução de salários. Uma centena de despedimentos será comemorada com alegres cantares.
Quê? Já não há serviço nacional de saúde? E Prozac, também já não há?
Isto vai acabar mal...

sábado, 3 de setembro de 2011

Palpites de uma leiga

Todos os dias conheço novas lojas fechadas na Baixa lisboeta. Nos dias de trabalho, à hora do almoço, olho para o interior das que mantêm portas abertas e, com excepção daquelas que pertencem a grandes cadeias internacionais (Zara, H§M, Mango e afins), estão às moscas, pelo que me apanho a pensar quanto tempo demorarão a fechar.
Nos restaurante vê-se o mesmo cenário. Já ouvi dizer que um dos que frequento habitualmente corre o risco de fechar em breve, se as coisas não melhorarem, a clientela reduziu significativamente desde Janeiro.
Depois dos 3 PEC socialistas, já sofremos mais uns quantos PEC, ou apertos de igual natureza, com outra sigla qualquer, vindos da parte dos liberais.
Estes últimos, à boleia da Troyca, têm a oportunidade de ouro de adoptar as suas medidas de desmantelamento do Estado, reduzindo-o ao mínimo em áreas como a saúde, a educação ou a segurança social.
Malogradamente, a par dessas medidas, continuam a subir vertiginosamente os impostos sobre o rendimento (declarado) do trabalho e do consumo (anunciou-se, já, nova subida do IVA). Vai escapando a tributação do capital, com a justificação (numa miragem) de evitar a fuga de capitais para o exterior e de angariar investimento estrangeiro.
Já sabemos que não aumentarão só impostos, alegre-mo-nos, pois também vai aumentar o desemprego.Os incumprimentos das obrigações das famílias dispararão em flecha, com desastrosas consequências em toda a economia.
Tudo, quando a maioria de nós já não puder contar com cuidados de saúde, educação e apoios sociais.
No próximo ano, talvez o senhor PR diga, de novo, que não se podem pedir mais sacrifícios aos portugueses (parece-me que o disse a Sócrates, ultimamente tem estado de férias).
Palpita-me que, lá para Janeiro ou Fevereiro, o pessoal estoira. Como será o estoiro? Esse palpite não consigo dar... Oxalá não seja a acabar com o resto, partindo tudo, sei lá...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Doce Setembro

Habituei-me a viver o Setembro como mês de transição entre o "dolce fare niente" e a vida de azáfama.
Na infância, depois das longas férias do mês de Agosto da família, regressava-se a Lisboa e dava-se início aos preparativos para outro ano lectivo que se aproximava.
Compravam-se os livros novos e o material escolar. Lembro-me da fantástica sensação de tocar em todas aquelas preciosidades e, ainda hoje, mantenho o gosto por ter folhas, cadernos, canetas, lápis e borrachas novos. Quando entro numa papelaria e vejo toda a parafernália de material novo e moderno, fico com o síndrome de criança em loja de doces, desejando tudo.
Preparavam-se os atavios para levar à escola. A mãe tricotava casacos e camisolas, que haviam de ficar escondidos sob a bata branca da escola primária.
Esperava, ansiosa, os dias de se fazer o doce de tomate, a marmelada e a geleia.
Na altura própria, a mãe comprava no mercado uns quantos sacos de tomate bem maduro e de marmelos. Nem tudo era comprado no mesmo dia, porque tinha de os transportar nos braços, do mercado até casa, e subir, com eles, ao nosso 1º andar, sem elevador.
Chegado o dia, a actividade começava bem cedo na cozinha. Lavar e pelar o tomate, abri-lo para lhe tirar as grainhas e, depois de pesado, pô-lo dentro da panela, com idêntica quantidade de açucar e alguns paus de canela. Havia de estar em lume brando umas quantas horas, mexendo-se frequentemente com uma colher de pau, para não pegar ao fundo. Pronto e arrefecido, entornava-se para dentro de frascos grandes, e, antes de os fechar, cobria-se o doce de papel vegetal pincelado com água-ardente, não fosse o bolor atacar o futuro recheio do nosso pão.
Noutro dia, era a vez da marmelada e da geleia. Descascados e descaroçados os marmelos fazia-se a marmelada, aproveitando-se cascas e caroços para cozer em água que havia de ser coada e fervida com açucar. A marmelada colocar-se-ia em tigelas de loiça, coberta com papel vegetal, e a geleia em frascos. Outro dia de actividade intensa na cozinha.
Não sei o tempo que demoravam estas actividades, mas parecia-me muito. Era tudo feito cuidadosamente, de modo a que ficasse perfeito. O ponto em que devia ficar o cozinhado, o seu sabor e cor, eram meticulosamente acautelados.
Estas compotas proporcionar-nos-iam meses invernosos de doces colheradas consoladoras.
Que saudades...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vazio

No espaço em que nunca exististe ficou o vazio.
Sempre pobre de teus braços e desse coração.
Mas pleno de ilusão.

Mudou p'ra vazio, agora, o espaço.

Foi criado e desfeito.
Espaço sonhado, reinventado, refeito.
Ao fim de forjado, desfeito.

Vazio.


Ninguém me escuta

Aposto que a minha deve ser das vidas mais desinteressantes deste rectângulo Ocidental da Europa.
Anda por aí tanta gente a dizer que ouve ruídos, que vê as suas chamadas telefónicas súbita e inexplicavelmente interrompidas e coisas quejandas. Tudo indiciador de que estão a ser ouvidos.
Parece que os nossos serviços secretos estão interessados na vida do povo em geral, que não há cidadão que se preze que não tenha sido, ou que não esteja a ser, ouvido (a bem da Nação). E vai daí, a mim, nada. Nadica di nada. Nem ruídos, nem coisa nenhuma. A mim ninguém me quer ouvir.
Fazem mal. A minha vida é tão interessante. Umas escutazitas, bem feitas, davam pano para mangas e emprego a muito mangano. Ele eram instruções à mulher dias (as calças de sarja, sem pinças, não carecem de ser vincadas; não aspire água com o "inspirador", s.f.f., que já mandou dois p'ó galheiro) e às crianças (limpa a caixa dos gatos, estuda, toma banho e põe a roupa suja no respectivo cesto), com tantas coisas dignas de registo... mas não, nem a "inteligência" quer saber de mim.
Sinto-me ostracizada. Oiçam-me, oiçam-me, por favor, OIÇAM-ME.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sem título

Não o vejo, não o oiço, não o palpo, não o cheiro nem lhe sinto o sabor.
Dele sei que começa, dura e acaba.
Sabes definir o amor, tu? Eu não.
Porém...pois.

Aconchego

Com Agosto a chegar ao fim, inicia-se um novo ciclo. Entra o Setembro que trará o fim do Verão. Aninho-me.


Que bom...


AlmaFada

Raramente atingi algum objectivo que tivesse sido minuciosamente planeado. Pelo contrário, os acontecimentos vão-se sucedendo e a vida vai-se desenvolvendo ao sabor dos desafios que se me deparam e que assumo como tarefas para cumprir.
Deste modo, não faço planos para a vida, mas também não enjeito o que a vida me apresenta, seja bom ou seja mau. Agarro os reptos e vou em frente.
Assim, sem projectar, nasceu esta AlmaFada. Sem quê, nem p'ra quê, passei a pôr sob esta forma os pensamentos, reflexões, estórias e invenções que desde sempre ia escrevinhando por papeis que tivesse à mão (uma folha, um guardanapo, um cantinho de uma toalha de mesa no restaurante, uma agenda...).
Usar este espaço, este personagem, ou este alter ego, está a tornar-se numa espécie de necessidade. Muitas vezes esqueço-me de que o que aqui digo se torna público, ultrapassando o espaço das minhas malas de senhora, dos meus bolsos, das pilhas de papeis, onde jaziam os meus escritos, sem que ninguém os lesse (ainda vou produzindo alguns nesse formato). 
Doutras vezes, ao invés, irreflectidamente, surpreendo-me (tal é o pretenciosismo) porque um qualquer amigo me diz não ter conhecimento de um assunto que eu tenha exposto na AlmaFada. Disparate.
Sem me confundir com a AlmaFada, que personifico, contenho-a. Vou para além dela, mas abarco-a, como parte de mim. Trato-a, simultaneamente, como outrém e como minha componente.
"Vai à AlmaFada, escrevi lá uma coisa sobre..."


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Do que precisamos para ganhar um amigo?

Passo bastante tempo a pensar em como manter as amizades que fui acumulando na vida. Ocasionalmente, magico em como promover um contacto com este ou com aquele amigo com quem não falo, ou com quem não estou há muito. Como estará? O que andará a fazer? Nem por isso consigo dar conta do recado. Andam por aí muitos amigos à solta, de quem tenho notícia raramente.
Hoje, cá nas minhas lucubrações, interroguei-me sobre o que é preciso para ganhar um amigo.
O que é que faz com que alguém passe, para nós,e nós para essa pessoa, do estatuto de conhecido, vizinho, familiar, colega, ou outro, a essa casta especial em que se inscrevem os amigos?
Não sei responder com rigor. Aliás, acho que os sentimentos nunca têm definição muito rigorosa e que dificilmente se explicam os seus fundamentos. Alguns são imperscrutáveis.
Todavia, consigo identificar, com nitidez, várias atitudes que partilho com os que se tornam para mim e para quem me transformo em amigo/a (recuso-me a dizer "verdadeiro" amigo/a, já que, por natureza os amigos são verdadeiros). São posturas de verdade, de franqueza, de solidariedade, de partilha, de respeito, de admiração.
Há cinco anos, chegou-me uma colega. A sua presença foi permanente, desde então. Trabalhámos juntas, com inteira solidariedade e, aos poucos, foi aumentando a confiança recíproca que ultrapassou as margens do labor, para abranger a partilha de vida. Hoje, de livre vontade, ela abriu as asas para voar para outras paragens, onde continuará a desenhar o seu destino.
A mim, que aqui fico, caem-me as lágrimas, de tristeza egoísta, por a não poder ter à mão. Ri-se-me a alma por saber que alcança um sonho e atento na glória de saber que não tenho nela uma colega, mas uma Enorme Amiga.
Fernanda, esta é para ti.

domingo, 28 de agosto de 2011

Eu e o Tempo

Eu e o Tempo não nos entendemos. Temos uma relação péssima, é isso.
Não, não falo daquele Tempo que medeia a data em que nasci até ao dia de hoje. Esse não me interessa nada. Não faço parte do clube dos, ou mais DAS, que se preocupam com a idade avançada que consideram ter em relação à que gostavam de possuir, lido muito bem com a minha idade (muitas vezes nem sei que idade tenho, lá tenho de andar a fazer contas), o que se passa é que o Tempo não me rende nada. Nunca me dá para fazer sequer metade do que planeio fazer.
Ahh, esperem, ocorreu-me agora que a minha má relação talvez nem seja com o Tempo.
O Tempo, em termos absolutos, nem existe. Na sua percepção interferem muitos factores, alguns puramente psicológicos. Quantas vezes experimentamos a sensação de que certos acontecimentos transcorreram de forma muito rápida, e de que outros transcorreram de forma bem lenta, mesmo que o relógio, ou o calendário o desmintam?
Estou com Einstein, na definição de Tempo :"Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão.".
Na verdade dou-me bem com a ilusão que é o Tempo. Com o que me dou mal, mesmo muito mal, é com as invenções que o medem e que me espartilham a vida. Malditos relógios!

Eu não disse? Este queixume escrito já me atrasou o cozinhado do almoço. Help me!!!!

sábado, 27 de agosto de 2011

Interior V - O sino

Às sextas feiras, ao final da tarde, rumava à aldeia.

Faziam-se bem os primeiros 10 Km, a estrada tinha várias rectas e o piso não era mau. Pior se aguentavam os restantes 27 Km, em estrada estreita, relativamente esburacada, em curva contra curva até ao destino.
Na serra os Invernos eram gelados. O frio só se suportava com o fogão a queimar lenha todo o dia e com a cama recheada de pesados cobertores de papa. Cobertores de lã, manufacturados, que impediam que o corpo perdesse o pouco calor que conseguia produzir. O Verão era quente e seco.

Na aldeia a vida corria ao sabor das actividades sazonais.

Das sementeiras da Primavera às colheitas de Verão e seu armazenamento, o tempo era ocupado com muitos afazeres. No Outono e no Inverno, com os dias pequenos e frios, chegava o tempo do recolhimento caseiro. O trabalho no exterior ficava reduzido ao mínimo, assegurando-se, inexoravelmente, a sobrevivência dos animais, dando-lhes o sustento nos seus abrigos, ou levando-os ao pasto, quando os rigores do tempo o permitiam.

Quinzenalmente, aos sábados, rumava-se à feira de Barrelas, mercar os bens necessários. Ali se vendia de tudo. Toda a espécie de bens alimentares, animais vivos, artigos domésticos, roupa de vestir e calçado, pequenos electrodomésticos, ouro ou artefactos agrícolas.

Mais do que um lugar de trocas comerciais a feira cumpria a função social de promover o encontro de amigos. As pessoas cruzavam-se, parando muitas vezes para se cumprimentarem e inquirindo se o outro tinha lá visto a tia Maria, o tio Manel ou a tia Laurentina. Naquela terra, os adultos mais idosos do que o inquiridor assumiam sempre o título de tio ou tia, ficando a expressão senhor ou senhora reservada para os que se considerava terem estatuto social mais elevado.

Aos domingos a vida organizava-se ao redor da missa dominical. Nesse dia, ao contrário dos demais dias da semana em que era o sol quem ditava o horário, havia que estar atento ao relógio, às 11h os aldeãos reuniam-se, quase em peso, na igreja da freguesia para presenciar o evento.

Mas, ainda mais fidedigno do que o relógio, era o toque do sino da torre da igreja. A primeira tocadela, para anunciar a realização da celebração eucarística, ocorria exactamente uma hora antes do seu início. Quando faltasse meia-hora ouvia-se, novamente, por toda a aldeia o repenicar do sino, era o segundo toque. Finalmente, quinze minutos antes, tocava à entrada.

A rotina dominical era interrompida (além dos dias das festas religiosas e dos funerais) duas vezes por ano, no fim do Inverno e no termo do Verão. Tudo se alterava porque mudava a hora. Adiantar, ou atrasar os ponteiros do relógio uma hora, numa madrugada de sábado para domingo, lançava o caos na pacata vida domingueira da aldeia.

Nesses dias, bem cedo, iniciava-se a especulação sobre se a missa se realizaria pela hora nova, ou pela hora velha.

De nada valia que alguns, como eu, dissessem que não havia hora velha, nem nova, que só havia A hora e que era essa que regia. A experiência ensinara o povo que havia anos em que o senhor Prior resolvia adoptar a hora velha ou a hora nova, em razão da sua conveniência. Não queriam correr o risco de perder a missa.
No meio da celeuma, em que alguns defendiam achar que a missa seria dita na hora nova e outros que afirmavam  estar convencidos da realização da mesma na hora velha, havia de se impôr o toque do sino, que, alheio aos relógios mundanos, primeiramente abafava com o seu toque o alarido, para depois definitivamente o apaziguar, ditando a hora da eucaristia.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Assunto sério

Eu avisei, o assunto é sério, depois não se queixem com exclamações do género: "Que assunto para uma Fada falar, pfff".
Cá vai.
Sou noctívaga e o vício de ler qualquer coisita à noite, não me larga.
Acabei, agorinha, de ler uma das conferências que integram um interessante livro, recentemente publicado, "Homenagem de Viseu ao Professor Jorge de Figueiredo Dias", que tinha comprado há uns dias, mas do qual ainda não tinha lido nada (o tempo escasseia).
Escolhi, para começar, a conferência proferida pela minha Professora de Direito Penal, Teresa Pizarro Beleza, sob o título " Reconciliação, culpa e castigo - Uma breve reflexão a partir de Oshima e Coetzee". Adorei, claro.
Quem sabe, qualquer dia, aqui escreva um texto sobre este interessante tema, hein?
Vá. Não se assustem, na verdade as coisas assim sérias podem ser mesmo muito interessantes.
Agora, que vos dei conta da publicação do livro, podem adquiri-lo.
Por mim, não podia ter deixado de o fazer. É que, além do interessante conteúdo, é coordenado pelo meu amigo, Professor Paulo Pinto de Albuquerque, e na organização da homenagem participou outro amigo de longa data.


Vá, descansem, da próxima vez volto com uma crónica, ou outro conto.

Boas notícias

Aqui a Fada foi até à Baía de Cascais para assistir ao concerto da Áurea. Sabem que mais? Valeu a pena.
A noite quente, a beleza da baía à pinha de gente a cantar as músicas da artista... Sim senhor, belo espectáculo. Espero muito daquele jovem talento. Meninas, aqui entre nós, que ninguém nos ouve: esperemos que o grupo de músicos que a acompanha se mantenha, pelo menos o rapaz do "sexofone" (como diz uma senhora que conheço), liiiindo, que só visto.
Amanhã temos a Vanessa da Mata. Adivinhem quem é que lá estará caidinha, hein?




quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O pacto


Encontraram-se nos caminhos da vida em que já não esperavam encontrar ninguém.
Partilharam as dores, as derrotas, os prazeres e as conquistas que carregavam. Estabeleceram códigos de palavras e inventaram um mundo de sensações.
Pressentiam conhecer-se há muito. De outra vida, talvez.
Experimentavam juntos um mundo de verdade cristalina, absolutamente translúcida, partilhando segredos e cumplicidades.
Apreciavam a segurança do afecto recíproco, aquela doce sensação de orgulho íntimo apenas pertencente aos que se sentem amados.
Trocavam doces olhares, como o mel dos olhos dele. E, se se tocavam, enchia-se o firmamento de estrelas cadentes.
Cada um elevava o outro o mais alto que podia e, como sabiam do fim certo do idílio (faltava saber como e quando), pactuaram que seria com nobreza, anestesiando a dor.
Foi assim que num dia ele se abeirou dela e, com toda a dignidade do mundo, lhe disse, com os olhos tristes: “Foste uma luz intensa. Vou partir. Fica bem.”
Ela, muda e cega pelo clarão, conteve as lágrimas e sorriu-lhe.
Voaram, qual luz branca, cada um na sua direcção.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Margô

Triste, triste, triste.
Mas o que importa a tristeza que sinto? Interessa só a dor que a minha amiga sente e que eu não quero que sinta.
Quero-a bem, de saúde. Faz-me tanta falta a sua presença. Positiva, de uma alegria esfusiante, encantando-nos com os seus gracejos. Afectiva e animada. Imprescindível.
Se a minha varinha mágica fosse autêntica, voltava-a para ela carregada de saúde. Como não é, retribuo-lhe o afecto, que tão generosamente me tem dado, e desejo, do mais fundo de mim, que lhe regresse o vigor.

Volta bem , querida amiga, queremos-te e precisamos de ti.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pinceladas da minha cidade II

Durante o mês de Agosto, às sextas, há jazz no Chiado. Duma das varandas dos Grandes Armazéns do Chiado, que se converteu num banal centro comercial, virada para a Rua do Carmo, soltam-se os sons dos instrumentos invadindo o ar em seu redor.
 Cá em baixo as pessoas sentam-se no chão, portugueses e muitos turistas, deixando-se embalar pela música. Por mim, à semelhança de alguns, escolho ficar em pé, encostadinha à montra de uma loja, a saborear as delícias geladas do Santini (côco, chocolate e "fruit de passion", huuuummmm), abrindo bem os ouvidos, de modo a que o som se aposse das minhas entranhas.
Terminada a festa, desço a Rua Nova do Almada e, depois de calcorrear parte da Rua da Conceição, tomo a Rua Augusta, animada por vários homem-estátua e um bailarino de samba, até passar sob o seu arco triunfal.
Atravesso a Praça do Comércio e chego ao Tejo. Encaminho-me para o Campo das Cebolas e, mesmo em frente ao torreão em que funciona o Ministério das Finanças, passo ao largo da mulher do cheiro pestilento sustendo a respiração.
Entretanto caiu a noite. Escuto, agora, a música popular que anima um arraial, ali mesmo ao pé do rio. Há farturas, algodão doce e pipocas. Em frente ao palco dançam dois pares decadentes, e, junto a eles, um homem ébrio toca um bombo.
Multifacetada, esta Lisboa.














domingo, 21 de agosto de 2011

Thanks God

Julgavam-me a sobrevoar o Atlântico, ou o Continente africano? Népia. Alarme falso. É que, de "repentemente", a tarefa que me levava a N'gola, ficou em águas de bacalhau, foi cancelada, com poucas horas de antecedência.

Aqui p'ra nós, Deus é mesmo muito meu amigo, só Ele e eu sabíamos o sacrifício que, aqui a menina, ia fazer. Como Ele sabe que não revogo os acordos em que me envolvo, fê-lo por mim, dando-me uma enorme alegria, já que foi surpresa completa. Thank's God.

Ai, Luanda, Luanda... tão tremendamente pesada és para mim. Aquela impossibilidade de pôr um pé fora do hotel, a não ser para ir trabalhar conduzida pelo senhor Keta; o trânsito infernal; a tristeza de ver mais arranha-céus em contrução que arruinam por completo as coisas belas que a cidade tinha e, o pior, assistir ao convívio da miséria da maioria com o fausto de alguns...

Fiquei por cá. O próximo destino é S. Tomé. Tenho de me organizar para marcar a data da partida.

N'gola fica "sine die".


sábado, 20 de agosto de 2011

Melodiosamente nostálgica

Talvez pelo cinzento quente do dia, acordei com uma melodia nostálgica a ecoar dentro de mim. A bela música tradicional Napolitana, celebrizada e imortalizada na esplendorosa voz de Mário Lanza: Santa Lucia. Sei só um excerto da letra, mas isso não me impede de a entoar pela casa, enquanto dou conta das minhas tarefas. Oiçam, vale a pena.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Friday i'm in love. Uauuu!!!

Sexta feira. Kafixe, não acham? Parece que vem lá chuva e granizo, mas tásse bem!

Vá, aprovêtem... 



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Fadaeuxarida"

Hoje sou fadaeuxarida... E não digam que não sabem o que isso é. Também pode ser fadaextenuada, se preferirem. Ou fadaesgotada, pronto.
É que, no próximo Domingo, vou-me até Luanda, lutar pela vida, e antes de ir tenho de aprontar muitas coisas. Tem de ser.
Olé!!!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Com novo visual...

A minha princesa Carolina, criadora da imagem da primeira AlmaFada, resolveu, agora, criar e desenhar uma AlmaFada mais crescidinha e igualmente bonita.Gosto muito dela e passará a ser a imagem do blog.
 À medida que a minha querida filha for evoluindo nas suas capacidades artísticas, a imagem da AlmaFada poderá mudar.
Por agora, vou aqui publicar a primeira fadinha, para memória futura.



O anjo

Levantou da mesa o prato vazio e o garfo. Arrumou o pão que sobejava no saco de retalhos coloridos, feito para o enxoval. Lavou e secou a loiça.
Nessa noite queria sentir-se limpa, como há muito não se sentia. Entrou na banheira e direccionou o chuveiro para o rosto, a água tépida escorreu-lhe pelo corpo. Ensaboou-se, com o sabonete das estrelas de cinema da remota infância.
No fim, secou o corpo cuidadosamente. Pôs talco nas axilas, dos poucos luxos a que se podia dar, e deitou-se.
Nessa noite esperava-o ansiosa. Fixou os olhos no tecto e viu um filme. Aquele em que ele a surpreendia, ao virar da esquina da fábrica, e, de sorriso maroto, a enlaçava dizendo:" anda cá, meu anjo", p'ra depois quase a sufocar com o beijo intenso e prolongado, enquanto as mãos lhe percorriam o corpo rendido, húmido.
Tardava em chegar nesta noite.
Passaram-lhe à frente as imagens do casamento e do que sentiu quando o avistou, à sua espera, no altar. Bonito, como nunca o vira, com fato completo e gravata. Lembrou-se de, nessa noite, terem chegado ao abrigo improvisado a que chamavam casa e de ele a puxar para a cama, dizendo: "anda cá, meu anjo".
O menino dormia sossegado há muito. Não sabia as horas, nem se importava com isso.
Já nem se lembrava da última vez em que ele lhe chamara "meu anjo".
Sentiu-o subir a escada e o corpo estremeceu-lhe.
Como habitualmente, depois de a abrir, empurrou a porta de entrada até que batesse na parede e vociferou: "Dá-me o caldo, puta!"
Levantou-se, dirigiu-se à cozinha, e serviu-o. Ele, cambaleante, puxou-a pelos cabelos, praguejando e lançando-lhe mais insultos, o odor intenso a álcool provocou-lhe náuseas.
 Sem retorquir, soltou-se e voltou para a cama, à espera.
Como temia, sentiu-o, mais uma vez, aproximar-se do berço, aos berros, com os punhos cerrados. Pegou no machado e atingiu-o na cabeça.
Serena, vestiu-se. Pegou no filho pelas asas e saiu de casa, para se ir entregar.