quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vazio

No espaço em que nunca exististe ficou o vazio.
Sempre pobre de teus braços e desse coração.
Mas pleno de ilusão.

Mudou p'ra vazio, agora, o espaço.

Foi criado e desfeito.
Espaço sonhado, reinventado, refeito.
Ao fim de forjado, desfeito.

Vazio.


Ninguém me escuta

Aposto que a minha deve ser das vidas mais desinteressantes deste rectângulo Ocidental da Europa.
Anda por aí tanta gente a dizer que ouve ruídos, que vê as suas chamadas telefónicas súbita e inexplicavelmente interrompidas e coisas quejandas. Tudo indiciador de que estão a ser ouvidos.
Parece que os nossos serviços secretos estão interessados na vida do povo em geral, que não há cidadão que se preze que não tenha sido, ou que não esteja a ser, ouvido (a bem da Nação). E vai daí, a mim, nada. Nadica di nada. Nem ruídos, nem coisa nenhuma. A mim ninguém me quer ouvir.
Fazem mal. A minha vida é tão interessante. Umas escutazitas, bem feitas, davam pano para mangas e emprego a muito mangano. Ele eram instruções à mulher dias (as calças de sarja, sem pinças, não carecem de ser vincadas; não aspire água com o "inspirador", s.f.f., que já mandou dois p'ó galheiro) e às crianças (limpa a caixa dos gatos, estuda, toma banho e põe a roupa suja no respectivo cesto), com tantas coisas dignas de registo... mas não, nem a "inteligência" quer saber de mim.
Sinto-me ostracizada. Oiçam-me, oiçam-me, por favor, OIÇAM-ME.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sem título

Não o vejo, não o oiço, não o palpo, não o cheiro nem lhe sinto o sabor.
Dele sei que começa, dura e acaba.
Sabes definir o amor, tu? Eu não.
Porém...pois.

Aconchego

Com Agosto a chegar ao fim, inicia-se um novo ciclo. Entra o Setembro que trará o fim do Verão. Aninho-me.


Que bom...


AlmaFada

Raramente atingi algum objectivo que tivesse sido minuciosamente planeado. Pelo contrário, os acontecimentos vão-se sucedendo e a vida vai-se desenvolvendo ao sabor dos desafios que se me deparam e que assumo como tarefas para cumprir.
Deste modo, não faço planos para a vida, mas também não enjeito o que a vida me apresenta, seja bom ou seja mau. Agarro os reptos e vou em frente.
Assim, sem projectar, nasceu esta AlmaFada. Sem quê, nem p'ra quê, passei a pôr sob esta forma os pensamentos, reflexões, estórias e invenções que desde sempre ia escrevinhando por papeis que tivesse à mão (uma folha, um guardanapo, um cantinho de uma toalha de mesa no restaurante, uma agenda...).
Usar este espaço, este personagem, ou este alter ego, está a tornar-se numa espécie de necessidade. Muitas vezes esqueço-me de que o que aqui digo se torna público, ultrapassando o espaço das minhas malas de senhora, dos meus bolsos, das pilhas de papeis, onde jaziam os meus escritos, sem que ninguém os lesse (ainda vou produzindo alguns nesse formato). 
Doutras vezes, ao invés, irreflectidamente, surpreendo-me (tal é o pretenciosismo) porque um qualquer amigo me diz não ter conhecimento de um assunto que eu tenha exposto na AlmaFada. Disparate.
Sem me confundir com a AlmaFada, que personifico, contenho-a. Vou para além dela, mas abarco-a, como parte de mim. Trato-a, simultaneamente, como outrém e como minha componente.
"Vai à AlmaFada, escrevi lá uma coisa sobre..."


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Do que precisamos para ganhar um amigo?

Passo bastante tempo a pensar em como manter as amizades que fui acumulando na vida. Ocasionalmente, magico em como promover um contacto com este ou com aquele amigo com quem não falo, ou com quem não estou há muito. Como estará? O que andará a fazer? Nem por isso consigo dar conta do recado. Andam por aí muitos amigos à solta, de quem tenho notícia raramente.
Hoje, cá nas minhas lucubrações, interroguei-me sobre o que é preciso para ganhar um amigo.
O que é que faz com que alguém passe, para nós,e nós para essa pessoa, do estatuto de conhecido, vizinho, familiar, colega, ou outro, a essa casta especial em que se inscrevem os amigos?
Não sei responder com rigor. Aliás, acho que os sentimentos nunca têm definição muito rigorosa e que dificilmente se explicam os seus fundamentos. Alguns são imperscrutáveis.
Todavia, consigo identificar, com nitidez, várias atitudes que partilho com os que se tornam para mim e para quem me transformo em amigo/a (recuso-me a dizer "verdadeiro" amigo/a, já que, por natureza os amigos são verdadeiros). São posturas de verdade, de franqueza, de solidariedade, de partilha, de respeito, de admiração.
Há cinco anos, chegou-me uma colega. A sua presença foi permanente, desde então. Trabalhámos juntas, com inteira solidariedade e, aos poucos, foi aumentando a confiança recíproca que ultrapassou as margens do labor, para abranger a partilha de vida. Hoje, de livre vontade, ela abriu as asas para voar para outras paragens, onde continuará a desenhar o seu destino.
A mim, que aqui fico, caem-me as lágrimas, de tristeza egoísta, por a não poder ter à mão. Ri-se-me a alma por saber que alcança um sonho e atento na glória de saber que não tenho nela uma colega, mas uma Enorme Amiga.
Fernanda, esta é para ti.

domingo, 28 de agosto de 2011

Eu e o Tempo

Eu e o Tempo não nos entendemos. Temos uma relação péssima, é isso.
Não, não falo daquele Tempo que medeia a data em que nasci até ao dia de hoje. Esse não me interessa nada. Não faço parte do clube dos, ou mais DAS, que se preocupam com a idade avançada que consideram ter em relação à que gostavam de possuir, lido muito bem com a minha idade (muitas vezes nem sei que idade tenho, lá tenho de andar a fazer contas), o que se passa é que o Tempo não me rende nada. Nunca me dá para fazer sequer metade do que planeio fazer.
Ahh, esperem, ocorreu-me agora que a minha má relação talvez nem seja com o Tempo.
O Tempo, em termos absolutos, nem existe. Na sua percepção interferem muitos factores, alguns puramente psicológicos. Quantas vezes experimentamos a sensação de que certos acontecimentos transcorreram de forma muito rápida, e de que outros transcorreram de forma bem lenta, mesmo que o relógio, ou o calendário o desmintam?
Estou com Einstein, na definição de Tempo :"Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão.".
Na verdade dou-me bem com a ilusão que é o Tempo. Com o que me dou mal, mesmo muito mal, é com as invenções que o medem e que me espartilham a vida. Malditos relógios!

Eu não disse? Este queixume escrito já me atrasou o cozinhado do almoço. Help me!!!!

sábado, 27 de agosto de 2011

Interior V - O sino

Às sextas feiras, ao final da tarde, rumava à aldeia.

Faziam-se bem os primeiros 10 Km, a estrada tinha várias rectas e o piso não era mau. Pior se aguentavam os restantes 27 Km, em estrada estreita, relativamente esburacada, em curva contra curva até ao destino.
Na serra os Invernos eram gelados. O frio só se suportava com o fogão a queimar lenha todo o dia e com a cama recheada de pesados cobertores de papa. Cobertores de lã, manufacturados, que impediam que o corpo perdesse o pouco calor que conseguia produzir. O Verão era quente e seco.

Na aldeia a vida corria ao sabor das actividades sazonais.

Das sementeiras da Primavera às colheitas de Verão e seu armazenamento, o tempo era ocupado com muitos afazeres. No Outono e no Inverno, com os dias pequenos e frios, chegava o tempo do recolhimento caseiro. O trabalho no exterior ficava reduzido ao mínimo, assegurando-se, inexoravelmente, a sobrevivência dos animais, dando-lhes o sustento nos seus abrigos, ou levando-os ao pasto, quando os rigores do tempo o permitiam.

Quinzenalmente, aos sábados, rumava-se à feira de Barrelas, mercar os bens necessários. Ali se vendia de tudo. Toda a espécie de bens alimentares, animais vivos, artigos domésticos, roupa de vestir e calçado, pequenos electrodomésticos, ouro ou artefactos agrícolas.

Mais do que um lugar de trocas comerciais a feira cumpria a função social de promover o encontro de amigos. As pessoas cruzavam-se, parando muitas vezes para se cumprimentarem e inquirindo se o outro tinha lá visto a tia Maria, o tio Manel ou a tia Laurentina. Naquela terra, os adultos mais idosos do que o inquiridor assumiam sempre o título de tio ou tia, ficando a expressão senhor ou senhora reservada para os que se considerava terem estatuto social mais elevado.

Aos domingos a vida organizava-se ao redor da missa dominical. Nesse dia, ao contrário dos demais dias da semana em que era o sol quem ditava o horário, havia que estar atento ao relógio, às 11h os aldeãos reuniam-se, quase em peso, na igreja da freguesia para presenciar o evento.

Mas, ainda mais fidedigno do que o relógio, era o toque do sino da torre da igreja. A primeira tocadela, para anunciar a realização da celebração eucarística, ocorria exactamente uma hora antes do seu início. Quando faltasse meia-hora ouvia-se, novamente, por toda a aldeia o repenicar do sino, era o segundo toque. Finalmente, quinze minutos antes, tocava à entrada.

A rotina dominical era interrompida (além dos dias das festas religiosas e dos funerais) duas vezes por ano, no fim do Inverno e no termo do Verão. Tudo se alterava porque mudava a hora. Adiantar, ou atrasar os ponteiros do relógio uma hora, numa madrugada de sábado para domingo, lançava o caos na pacata vida domingueira da aldeia.

Nesses dias, bem cedo, iniciava-se a especulação sobre se a missa se realizaria pela hora nova, ou pela hora velha.

De nada valia que alguns, como eu, dissessem que não havia hora velha, nem nova, que só havia A hora e que era essa que regia. A experiência ensinara o povo que havia anos em que o senhor Prior resolvia adoptar a hora velha ou a hora nova, em razão da sua conveniência. Não queriam correr o risco de perder a missa.
No meio da celeuma, em que alguns defendiam achar que a missa seria dita na hora nova e outros que afirmavam  estar convencidos da realização da mesma na hora velha, havia de se impôr o toque do sino, que, alheio aos relógios mundanos, primeiramente abafava com o seu toque o alarido, para depois definitivamente o apaziguar, ditando a hora da eucaristia.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Assunto sério

Eu avisei, o assunto é sério, depois não se queixem com exclamações do género: "Que assunto para uma Fada falar, pfff".
Cá vai.
Sou noctívaga e o vício de ler qualquer coisita à noite, não me larga.
Acabei, agorinha, de ler uma das conferências que integram um interessante livro, recentemente publicado, "Homenagem de Viseu ao Professor Jorge de Figueiredo Dias", que tinha comprado há uns dias, mas do qual ainda não tinha lido nada (o tempo escasseia).
Escolhi, para começar, a conferência proferida pela minha Professora de Direito Penal, Teresa Pizarro Beleza, sob o título " Reconciliação, culpa e castigo - Uma breve reflexão a partir de Oshima e Coetzee". Adorei, claro.
Quem sabe, qualquer dia, aqui escreva um texto sobre este interessante tema, hein?
Vá. Não se assustem, na verdade as coisas assim sérias podem ser mesmo muito interessantes.
Agora, que vos dei conta da publicação do livro, podem adquiri-lo.
Por mim, não podia ter deixado de o fazer. É que, além do interessante conteúdo, é coordenado pelo meu amigo, Professor Paulo Pinto de Albuquerque, e na organização da homenagem participou outro amigo de longa data.


Vá, descansem, da próxima vez volto com uma crónica, ou outro conto.

Boas notícias

Aqui a Fada foi até à Baía de Cascais para assistir ao concerto da Áurea. Sabem que mais? Valeu a pena.
A noite quente, a beleza da baía à pinha de gente a cantar as músicas da artista... Sim senhor, belo espectáculo. Espero muito daquele jovem talento. Meninas, aqui entre nós, que ninguém nos ouve: esperemos que o grupo de músicos que a acompanha se mantenha, pelo menos o rapaz do "sexofone" (como diz uma senhora que conheço), liiiindo, que só visto.
Amanhã temos a Vanessa da Mata. Adivinhem quem é que lá estará caidinha, hein?




quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O pacto


Encontraram-se nos caminhos da vida em que já não esperavam encontrar ninguém.
Partilharam as dores, as derrotas, os prazeres e as conquistas que carregavam. Estabeleceram códigos de palavras e inventaram um mundo de sensações.
Pressentiam conhecer-se há muito. De outra vida, talvez.
Experimentavam juntos um mundo de verdade cristalina, absolutamente translúcida, partilhando segredos e cumplicidades.
Apreciavam a segurança do afecto recíproco, aquela doce sensação de orgulho íntimo apenas pertencente aos que se sentem amados.
Trocavam doces olhares, como o mel dos olhos dele. E, se se tocavam, enchia-se o firmamento de estrelas cadentes.
Cada um elevava o outro o mais alto que podia e, como sabiam do fim certo do idílio (faltava saber como e quando), pactuaram que seria com nobreza, anestesiando a dor.
Foi assim que num dia ele se abeirou dela e, com toda a dignidade do mundo, lhe disse, com os olhos tristes: “Foste uma luz intensa. Vou partir. Fica bem.”
Ela, muda e cega pelo clarão, conteve as lágrimas e sorriu-lhe.
Voaram, qual luz branca, cada um na sua direcção.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Margô

Triste, triste, triste.
Mas o que importa a tristeza que sinto? Interessa só a dor que a minha amiga sente e que eu não quero que sinta.
Quero-a bem, de saúde. Faz-me tanta falta a sua presença. Positiva, de uma alegria esfusiante, encantando-nos com os seus gracejos. Afectiva e animada. Imprescindível.
Se a minha varinha mágica fosse autêntica, voltava-a para ela carregada de saúde. Como não é, retribuo-lhe o afecto, que tão generosamente me tem dado, e desejo, do mais fundo de mim, que lhe regresse o vigor.

Volta bem , querida amiga, queremos-te e precisamos de ti.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pinceladas da minha cidade II

Durante o mês de Agosto, às sextas, há jazz no Chiado. Duma das varandas dos Grandes Armazéns do Chiado, que se converteu num banal centro comercial, virada para a Rua do Carmo, soltam-se os sons dos instrumentos invadindo o ar em seu redor.
 Cá em baixo as pessoas sentam-se no chão, portugueses e muitos turistas, deixando-se embalar pela música. Por mim, à semelhança de alguns, escolho ficar em pé, encostadinha à montra de uma loja, a saborear as delícias geladas do Santini (côco, chocolate e "fruit de passion", huuuummmm), abrindo bem os ouvidos, de modo a que o som se aposse das minhas entranhas.
Terminada a festa, desço a Rua Nova do Almada e, depois de calcorrear parte da Rua da Conceição, tomo a Rua Augusta, animada por vários homem-estátua e um bailarino de samba, até passar sob o seu arco triunfal.
Atravesso a Praça do Comércio e chego ao Tejo. Encaminho-me para o Campo das Cebolas e, mesmo em frente ao torreão em que funciona o Ministério das Finanças, passo ao largo da mulher do cheiro pestilento sustendo a respiração.
Entretanto caiu a noite. Escuto, agora, a música popular que anima um arraial, ali mesmo ao pé do rio. Há farturas, algodão doce e pipocas. Em frente ao palco dançam dois pares decadentes, e, junto a eles, um homem ébrio toca um bombo.
Multifacetada, esta Lisboa.














domingo, 21 de agosto de 2011

Thanks God

Julgavam-me a sobrevoar o Atlântico, ou o Continente africano? Népia. Alarme falso. É que, de "repentemente", a tarefa que me levava a N'gola, ficou em águas de bacalhau, foi cancelada, com poucas horas de antecedência.

Aqui p'ra nós, Deus é mesmo muito meu amigo, só Ele e eu sabíamos o sacrifício que, aqui a menina, ia fazer. Como Ele sabe que não revogo os acordos em que me envolvo, fê-lo por mim, dando-me uma enorme alegria, já que foi surpresa completa. Thank's God.

Ai, Luanda, Luanda... tão tremendamente pesada és para mim. Aquela impossibilidade de pôr um pé fora do hotel, a não ser para ir trabalhar conduzida pelo senhor Keta; o trânsito infernal; a tristeza de ver mais arranha-céus em contrução que arruinam por completo as coisas belas que a cidade tinha e, o pior, assistir ao convívio da miséria da maioria com o fausto de alguns...

Fiquei por cá. O próximo destino é S. Tomé. Tenho de me organizar para marcar a data da partida.

N'gola fica "sine die".


sábado, 20 de agosto de 2011

Melodiosamente nostálgica

Talvez pelo cinzento quente do dia, acordei com uma melodia nostálgica a ecoar dentro de mim. A bela música tradicional Napolitana, celebrizada e imortalizada na esplendorosa voz de Mário Lanza: Santa Lucia. Sei só um excerto da letra, mas isso não me impede de a entoar pela casa, enquanto dou conta das minhas tarefas. Oiçam, vale a pena.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Friday i'm in love. Uauuu!!!

Sexta feira. Kafixe, não acham? Parece que vem lá chuva e granizo, mas tásse bem!

Vá, aprovêtem... 



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Fadaeuxarida"

Hoje sou fadaeuxarida... E não digam que não sabem o que isso é. Também pode ser fadaextenuada, se preferirem. Ou fadaesgotada, pronto.
É que, no próximo Domingo, vou-me até Luanda, lutar pela vida, e antes de ir tenho de aprontar muitas coisas. Tem de ser.
Olé!!!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Com novo visual...

A minha princesa Carolina, criadora da imagem da primeira AlmaFada, resolveu, agora, criar e desenhar uma AlmaFada mais crescidinha e igualmente bonita.Gosto muito dela e passará a ser a imagem do blog.
 À medida que a minha querida filha for evoluindo nas suas capacidades artísticas, a imagem da AlmaFada poderá mudar.
Por agora, vou aqui publicar a primeira fadinha, para memória futura.



O anjo

Levantou da mesa o prato vazio e o garfo. Arrumou o pão que sobejava no saco de retalhos coloridos, feito para o enxoval. Lavou e secou a loiça.
Nessa noite queria sentir-se limpa, como há muito não se sentia. Entrou na banheira e direccionou o chuveiro para o rosto, a água tépida escorreu-lhe pelo corpo. Ensaboou-se, com o sabonete das estrelas de cinema da remota infância.
No fim, secou o corpo cuidadosamente. Pôs talco nas axilas, dos poucos luxos a que se podia dar, e deitou-se.
Nessa noite esperava-o ansiosa. Fixou os olhos no tecto e viu um filme. Aquele em que ele a surpreendia, ao virar da esquina da fábrica, e, de sorriso maroto, a enlaçava dizendo:" anda cá, meu anjo", p'ra depois quase a sufocar com o beijo intenso e prolongado, enquanto as mãos lhe percorriam o corpo rendido, húmido.
Tardava em chegar nesta noite.
Passaram-lhe à frente as imagens do casamento e do que sentiu quando o avistou, à sua espera, no altar. Bonito, como nunca o vira, com fato completo e gravata. Lembrou-se de, nessa noite, terem chegado ao abrigo improvisado a que chamavam casa e de ele a puxar para a cama, dizendo: "anda cá, meu anjo".
O menino dormia sossegado há muito. Não sabia as horas, nem se importava com isso.
Já nem se lembrava da última vez em que ele lhe chamara "meu anjo".
Sentiu-o subir a escada e o corpo estremeceu-lhe.
Como habitualmente, depois de a abrir, empurrou a porta de entrada até que batesse na parede e vociferou: "Dá-me o caldo, puta!"
Levantou-se, dirigiu-se à cozinha, e serviu-o. Ele, cambaleante, puxou-a pelos cabelos, praguejando e lançando-lhe mais insultos, o odor intenso a álcool provocou-lhe náuseas.
 Sem retorquir, soltou-se e voltou para a cama, à espera.
Como temia, sentiu-o, mais uma vez, aproximar-se do berço, aos berros, com os punhos cerrados. Pegou no machado e atingiu-o na cabeça.
Serena, vestiu-se. Pegou no filho pelas asas e saiu de casa, para se ir entregar.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ficção

Plim, Plim, Plim

Parece que a varinha me anda a dar umas ideias. O.K., não sei se as ideias são da varinha, ou mesmo minhas, mas está, agora mesmo, a ocorrer-me que poderia escrever textos de ficção. Tchanananã!!!
Pois. É que, passo a vida a usar a AlmaFada para manifestar as opiniões cá da menina, ou contando estorietas da minha vidinha (às vezes apetece-me, que hei-de eu fazer?) e nunca me ocorreu pôr no papel (salve seja) um textozito de ficção.
Está decidido. Em breve iniciarei uma incursão pelo imaginário. Voilá. Espero que tenham gostado da notícia.

sábado, 13 de agosto de 2011

Azar e sorte

Sábado, 13... Será dia de azar? Os dias 13 são todos de azar? Ou só as sextas feiras, 13, dão azar? Faz hoje um ano era SEXTA-FEIRA, 13, e foi dia azarento? Foi, claro, para alguns...

Tenho, p'ra mim, que em todos os dias há sortes e azares e que todos, mesmo todos, num só dia, vivemos situações que são momentos de sorte e outras que o são de azar.

Claro que a maioria desses momentos nem os identificamos, acontecem, sobretudo os de sorte, a cada instante (a veia que não entope, o ar que entra e sai dos pulmões, os músculos que respondem, o som que nos chega, o sorriso amigo que vemos, um gelado partilhado...). Depois há os outros, aqueles em que reconhecemos, apenas interiormente ou que alardoamos, que tivemos sorte, ou azar.

O que é mais surpreendente é que muitas vezes nos enganamos no juízo. O que por vezes nos parece, num primeiro momento, sorte, pode revelar-se um tremendo azar. O contrário também é verdadeiro.

Isto leva-me a pensar que, em muitos casos, a compreensão dos acontecimentos compreensiveis ocorre muito depois deles. Às vezes, temos de nos afastar do que nos sucede para não distorcermos a realidade.


Andar às aranhas

Concedo, não falemos na tragédia a passar-se no corno de África, que, escandalosamente, por estas bandas do hemisfério Norte, não colhe grande atenção, comecemos, pois, pela Europa - está um caos! Ele são os ingleses a pilhar e à pancada, sob o olhar atento de polícias pacíficos (coitados); os italianos com aquela dívida toda a tentar equilibrar as coisitas (é que se os mercados se arreliam à séria estão tramados); os franceses a ver se disfarçam que já os começam a atacar; a Bélgica, sem Governo (mas nem se nota), naquele "tem-te e não caias"; isto para nem falar grande coisa dos desgraçados PIGS que, esses, já sabemos, têm a sina marcada...(agora bem acompanhadinhos, diga-se).
Quanto ao nosso amigo Obama, com o charme de sempre, vai dando ares de que os EUA merecem os três (ou mesmo quatro) A (girassol hehehehe), apesar de estar à vista, do mais imberbe observador, que a confiança na dívida daqueles senhores já conheceu melhores dias.
Sabem o que acho? Que o mundo anda às aranhas.
Pois sim, às aranhas e mais nada. Anda tudo desorientado a ver no que é que isto vai dar, olhando para o seu umbiguito (especialmente a sempre querida Alemanha).
Por cá é que não se passa nada. Aqui, no nosso Portugalito, ou "Portugal dos Pequenitos", o povinho vive em serena apatia as suas fériazinhas.
Claro, andamos entusiasmadíssimos com o fantástico senhor Ministro Gaspar, que toma conta de nós (juntamente com o nosso Presidente, sempre alerta no seu posto avançado a Sul) enquanto o nosso 1º goza umas merecidas férias de oposição e campanha (já que ainda não governou grande coisa) e nos vai dando conta, naquele tom de voz monocórdico, de que vamos pagar mais impostos,  de que veremos reduzidos os direitos na saúde, na velhice e na educação. Tudo isto, com menor rendimento e maior desemprego.
Pois...tirando isso, por aqui, não se passa mesmo nada.
Que medidas serão apresentadas na próxima semana? Estou desejosa por saber. Se tiverem notícia avisem aqui a fadinha, ok? Que excitação!!!!





Mudásti!!!

Ora bem, apeteceu-me mudar de visual. Aproveitei as férias e... PIMBA... mudei de aspecto. Estou giríssima, não acham??? Ai, ai, este perfil de fadinha vaidosa... 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

"Imagicando"

O meu mundo de fada, que tem muitos séculos (em tempo mágico), vai sendo interrompido por acontecimentos bem terrenos.

Alguns são bons: os prazenteiros e os construtivos.

Outros, muito desagradáveis, penso naqueles em que sou confrontada com a dor e aqueles em que, às vezes em poucos segundos terrenos, com um sopro, se destroem séculos de imaginado encantamento.

Num ápice, por descuido ou maldade, pode arruinar-se o rendilhado da magia, que é filigrana de demorada construção, em trabalhos intensos e minuciosos de mãos e neurónios dedicados e bondosos.

Desconstrutoras, muitas acções humanas...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Lombo e osso

Pois é meus amigos, isto não está mau, está péssimo!!! Com vendas a preço de saldo, melhor de " Liquidação Total", daquilo que este nosso desgraçado país tem para vender, muitos ossos teremos de roer, muito fel teremos de engolir...

Aconselho-vos a seguinte leitura:

"BIC laranja, BIC cristal

A privatização do BPN é o melhor negócio do ano.
A privatização do BPN é o melhor negócio do ano. O Governo tinha um prazo muito apertado e é preciso elogiar a excelente capacidade de negociação, a rapidez, o valor, a separação dos activos. Quanto mais se sabe da operação, mais é preciso sublinhar o mérito do homem-chave deste sucesso: parabéns, Eng.º Mira Amaral.

O problema do BPN já existia e já era enorme. Mas é chocante ver o Estado português ajoelhar-se assim. O negócio não é mau, é péssimo. É inexplicável que o Montepio tenha sido arredado.
E é dinheiro dos contribuintes que está em causa. Portugal está a iniciar um processo acelerado de privatizações, não pode fazê-lo sem transparência, como é o caso. O ministro das Finanças também tem muito orgulho desta venda do BPN?

A nacionalização teve de ser feita. Mas demorou-se uma eternidade a resolver o problema, assim agravando-o. A responsabilidade é inteira do Governo de José Sócrates: nunca quis reconhecer o "buraco" nas contas públicas nem assumir o despedimento dos dois mil trabalhadores que lá estavam. E, verdade ou consequência, o BPN foi arma de arremesso político contra Cavaco Silva. Uma desgraça, é o que é.

No ano passado, Sócrates quis privatizar. Colocou como preço mínimo 180 milhões de euros, exigiu que não houvesse despedimentos e quis vender um banco ainda intoxicado por créditos maus. O Governo quis enganar alguém. Obviamente, ninguém quis o banco.

Veio a troika. Obrigou o novo Governo a cortar o problema num mês. O Governo abriu a gaveta e tirou de lá a proposta do PS. Uma proposta vergonhosa: o Estado queria vender o BPN ainda contaminado por maus créditos, de "rating" especulativo, abaixo de especulativo ou mesmo sem "rating". Os créditos das empresas do grupo SLN continuavam no BPN. É essa a toxicidade maior: as alegadas aldrabices dos accionistas do BPN, que estão alegremente impunes, e que se penduraram num banco que acabou nacionalizado. E assim avança a nova fase de privatização.

Aparecem três propostas. Negoceia-se só com uma delas. E acaba-se nesta vergonha: o BIC paga 40 milhões, o que é nada, e em troca escolhe os créditos que quer (ou seja, os bons), os balcões que quer (ou seja, os bons) e os 750 funcionários que quer (ou seja, os bons). Tudo o que é mau fica no Estado. Pago pelo Estado. Incluindo o despedimentos de quase 900 pessoas. Quem? O BIC decide. O Estado paga. Lombo para uns, osso para nós.

É um negócio excelente para o BIC. Ao extirpar todo o problema do BPN, o BIC fica com um banco "limpinho", com rácios como outros não têm e após 550 milhões de euros de capital do Estado a custo zero. Somando esse valor aos depósitos que lá estão, são os fundos mais baratos do mercado, abaixo dos 3%. E como paradoxalmente o BPN fica cheio de liquidez, poderá investir esse dinheiro mais cerca de mil milhões de depósitos. Basta aplicar em dívida pública, ganha 10% limpinhos.

Estas condições são uma vergonha e um insulto. Os portugueses vão pagar entre três e quatro mil milhões de euros por uma nacionalização após actos criminosos de quem está impune, dos accionistas aos gestores, passando pela supervisão.

Havia três propostas. Uma de um grupo que se chama NEI mas podia chamar-se Ney Matogrosso: não se vendem licenças bancárias a quem não se conhece. Outro, o Montepio, queria alguns activos do BPN, o que vai dar no mesmo. Mas segundo o seu presidente afirmou ontem ao "i", nunca mais foi ouvido. E assim o Estado acabou nas mãos de um único candidato, o BIC, um banco angolano e de pequena dimensão.

Esta exclusividade do BIC não está explicada. Os portugueses têm o direito de saber o que fazem ao seu dinheiro, sob pena de podermos pensar que o BPN faz parte de um negócio maior com Angola.

O último a chorar chora pior. O Estado quis enganar alguém com a venda do BPN mas acabou enganado. É para isto que pagamos impostos.

psg@negocios.pt"

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Banalidades

O meu horóscopo dá-me a saber que se passarão coisas extraordinárias na minha vida, todos os dias.
Diz que que vou ter grandes encontros, grandes amores, francos progressos profissionais, finanças em alta, enfim... Aposto que as outras sagitarianas do planeta andam todas cheias de sorte.
Quanto a mim, limito-me a cozinhar grão com bacalhau...