quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A angústia da ignorância, ou talvez não

Vim visitar a AlmaFada, estava com saudades dela.
Tornou-se uma amiga a AlmaFada, muito consoladora, por sinal. Serve-me para nela despejar sentimentos vários, e não se queixa.
Quando a vida me corre mal logo penso que hei-de libertar a angústia ou a fúria nesta minha amiga. Coisas alegres ou fantásticas que me aconteçam, também me passa pela cabeça contar-lhas. Claro que na maioria das vezes não o faço, mas, outras vezes, sim.
A noite que passou resolvi que queria saber mais sobre Bach, sobre a sua música. De pc ao colo, no sofá da sala, pesquisei o que consegui, de artigo para artigo, na grande rede. Dediquei ao assunto umas cinco horas e fiquei com mais um cheirinho sobre o tema.
Depois de dormir duas horas (pude dar-me a esse luxo por estar de férias), cumprimentei o dia com a seguinte afirmação: "Sou completamente ignorante. Sei uma ínfima parte do conhecimento conhecido, quanto mais do putativo conhecimento".
Com esta constatação recorrente na minha vida, senti-me pequenina e impotente. Mas, depois de alguma reflexão, essa sensação deu lugar à alegria de perceber que, por muitos anos que viva, vou ter uma fonte inesgotável de seiva para me alimentar o espírito, sem qualquer risco de me deparar com o Nada para aprender.

P.S. Acho que o último sentimento que referi (o positivo) não passa de um remedeio para me conformar, sinto-me mesmo muito pequenina, pelo nada que sei e isso faz-me sentir tão insignificante... Pois, cultivar a humildade é A grande virtude.



domingo, 20 de novembro de 2011

Books

Gosto de livros.
Gosto de livros com muitas folhas de papel. Gosto, especialmente, de livros com muitas folhas de papel macio. Folhas de papel macio e mole.
Gosto mesmo daqueles livros que têm muitas folhas de papel macio e mole e que, colocando-lhes o dedo polegar da mão direita na extremidade lateral da última folha deixando-as cair todas até à primeira, me fazem cócegas no dedo, enquanto soltam um aroma gostoso a livro. Sim, a livro, não a papel. Os livros de papel não me cheiram a papel, cheiram-me a livro.
Enquanto as folhas tombam, os meus olhos captam palavras, frases, e eu, enebriada pelas cócegas do papel, pelo odor do livro e pela magia das palavras que contém, travo, aqui e ali,  com urgência, a queda das folhas, com repentina intervenção da mão livre, para atentar naquela palavra, naquela expressão.
Gosto de livros. Gosto de ter livros. Gosto de os ter perto de mim. Evito abandonar os meus livros na estante, dá-me pena tê-los longe, sinto-lhes saudades. Na verdade, tenho medo de os esquecer enquanto ali estão.
Gosto de livros, de os olhar, de lhes pegar, de os tocar, de os cheirar, de neles viajar.
Gosto de livros.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Bula-uê e o saxofone

Amanhã regresso à Europa, onde nasci. Segundo julgo, S. Tomé ficará definitivamente para trás. Desta vez pressinto que não voltarei a esta terra. A missão que me trouxe está concluída e não penso voltar por escolha minha, o mundo é tão grande...
Tornei a experenciar coisas novas. Alternei o trabalho que cá me trouxe com momentos de lazer, alguns bem diferentes dos que habitualmente vivo.
Substituí o tempo que habitualmente uso nas tarefas domésticas ou de dedicação aos meus, pela leitura. Passeei-me no "meu" jipe, numa condução surreal, para fazer frente às permanentes surpresas nas estradas. Além do apitar contante de tudo o que se desloca - carros e motorizadas com fartura - atravessam-se pessoas e animais, revelando grande calma nas travessias. A isto acrescem carros "estacionados" quase no meio da estrada; outros parados, literalmente, no meio da via com pessoas ao telemóvel, ou que, calmamente, conversam com alguém que se abeirou da viatura. Só vos digo, é de ficar de boca aberta. Mas, se estamos aqui, o melhor é mantermo-nos calmos e de coração aberto às diferenças. Temos de assumir a postura "leve-leve" da terra.
Tive óptimas experiências gastronómicas. Ontem jantei no Espaço Cacau. Um lugar de artes e utopias. A fruta-pão grelhada e frita, a banana esmagada frita, o frango grelhado maravilhosamente temperado, saladas e bolo de côco à sobremesa. E delicioso sumo de manga. Estava tudo fantástico. Os cozinhados foram feitos sob a égide do João Carlos Silva, pois é, o senhor do "Na roça com os tachos", que há anos passava na nossa Tv, programa que apreciava, estando eu, na altura, a anos-luz de saber que algum dia estaria neste local, com ele. Uma simpatia, diga-se. Ao ver-me só numa mesa convidou-me para a mesa dos artistas, como me disse, e que ele próprio integrava.
Após o jantar assisti a um espectáculo simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO: um grupo de homens e mulheres de Angolares (no sul da ilha) presenteou-nos com uma actuação composta por dança e cantares tradicionais, o bala-uê. Lindíssimo. Mas, o melhor, estava para vir, o nosso grande saxofonista Carlos Martins juntou-se ao grupo tradicional e juntou-lhe o som do Saxofone, num deslumbrante improviso que deixou o público embasbacado. O ambiente? Ar livre, noite quente, luz de velas, luar e muiiitas estrelas.
No final da noite um convite para uma aula de yoga, esta tarde, no mesmo espaço.
Sobre a aula? Amei.  Uma aula especial, ali estive a fazê-la com toda a verdade, no meio dos artistas.Sim, nela participaram o Carlos Martins e um monte de músicos e artistas plásticos que pululam naquele espaço cultural. Fiquei com o contacto da professora, vive perto de mim...
A seguir fui para o jantar de S. Martinho no Xico's Café, com música ao vivo...
Volto para casa em sintonia com o Universo.
Ai, caros leitores, hoje estou tão pouco inspirada para a escrita e com tanto sono... Mas queria contar isto, mesmo em cima do acontecimento.
Á bientôt...

domingo, 6 de novembro de 2011

Crónica de S. Tomé

Hotel Miramar, 6 de Novembro de 2011

11ª missão em África, 4ª em S. Tomé.

À chegada tudo igual, com excepção das crianças vendedoras de artesanato que, contrariamente ao habitual, não apareceram no aeroporto.
O cansaço que emigrou de Lisboa comigo, acrescentado com o ganho sobre o Atlântico, em mais 6 horas de voo nocturno num avião à pinha, aterrou intacto nesta ilha paradisíaca e entrou no quarto 201. Caímos na cama, sobre a colcha, cobertos pelo mosquiteiro e adormecemos.
Às 13 h, de 6ª feira, depois das 4 horas dormidas,  fui à Embaixada de Portugal buscar o jipe a cair aos pedaços em que costumo fazer-me transportar na ilha e rumei ao trabalho. Até às 17h30 duas reuniões a partir pedra e, depois, a liberdade.
Às 19h, depois de visita a loja de artesanato e de uma proposta de casamento (a primeira nesta incursão), lá fui espreitar o buffet. Resolvi que eu, a fome e o cansaço jantaríamos às 20h, até lá um duche e um pouco de repouso sobre a cama. Acordei às 4h30, ainda com a fome, o cansaço fora aproveitar a noite em saída vadia, mas deixara ficar a sede, sem gota de água para beber. O pequeno almoço seria servido a partir das 6h30.
Todo o sábado (com excepção de duas horas de trabalho) li e dormi, mergulhei e dormi, apanhei sol e dormi, comi e dormi.
O cansaço foi-se embora, espero que fique por cá. Fiquei sozinha e, desculpem o narcisismo, adoro a minha companhia. Não me falta aqui nada.
Amo a sensação de liberdade que me proporciona o não dar contas a ninguém, de nada combinar com ninguém, de ser uma completa desconhecida em terras longínquas. Gosto de comer sozinha, de estar só na piscina....Adoro.
Hoje ao pequeno-almoço reparei que na mesa do lado direito estava o cantor João Afonso, integrado num grupo. 15 minutos depois, deitada na espreguiçadeira a ler o empolgante romance que veio comigo, os meus ouvidos encheram-se com a música do cantor que, ao meu lado, tocando guitarra e cantando uma música alusiva à vida "leve-leve" de S. Tomé, gravava.
 Saí da piscina encharcada pela chuva tropical que caiu e refrescou o ar quente.

A Ana que estava em Lisboa na passada 5ª feira já não existe. Foi-se o stress.
O destino da Grécia e da eventual coligação entre o PASOK, acusado de nepotismo e corrupção, com o mentiroso e ludibriador, partido de direita; as declarações disparatadas do Secretário de Estado da Juventude de Portugal que devia ter emigrado e que, para mal dos nossos pecados, não o fez; a ditadura dos números do Ministro Gaspar alheada de sentido ético, tornaram-se, por ora, quase insignificantes.
Os passarinhos estão a cantar...
Inté...