sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Toureiem-se voluntários, digo eu...

Ouvi, finalmente, a famigerada entrevista ao jornalista, analista e escritor (ai o "Equador", livro de que gostei tanto), Miguel Sousa Tavares, a propósito da proibição, pós-referendo, das touradas na Catalunha.

Prestei atenção aos seus argumentos para fundamentar que a proibição dos touros de morte é uma estupidez e de que constitui uma falta de respeito pelas minorias.

Invoca que:
 a) A circunstância de as touradas serem espectáculo sangrento não é razão para o proibir já que só vai ver quem quer, além de que esse fundamento levaria também à proibição do boxe, ou das corridas de automóveis (neste último caso porque podem ocorrer acidentes...);
b) Quem é a favor da proibição das touradas ignora a tradição das ditas;
c) As touradas são de tal beleza que muitos dos grandes pintores de Espanha pintaram obras magníficas  inspirados no tema;
 d) Pior do que assistir a touradas é presenciar um programa da televisão portuguesa: a Casa dos Segredos;
e) Se forem proibidas as touradas ninguém quererá criar os touros de morte já que os mesmos não dão boa carne e nem servem para nada a não ser para tourear, correndo-se o risco de extinção da raça;
f) À volta das touradas gira toda uma economia que ruirá no caso de o espectáculo ser proibido.

Agora digo eu: Alô???Sr. MST...

Aqui a fadinha também abomina boxe bem como o princípio que norteia a Casa dos Segredos: exploração da miséria humana, em nome de interesses económicos que a justifica (à volta da Casa dos Segredos também há muito dinheirinho a ganhar, olá se há, ele são os shares e tal...).

Passa-se, todavia, que há um pequenito pormenor que o senhor desconsiderou, mas que, mesmo sendo ínfimo, é essencial na problemática. 

Vamos lá a saber:

Os intervenientes no espectáculo são todos tão voluntários como os voluntários espectadores?

I. é, assegura o senhor MST que quer toureiros, quer touros (e cavalos e chocas), etc., foram consultados sobre a sua vontade de participar no belíssimo espectáculo que tem sido objecto de magníficas obras de arte assinadas por Picasso ou Dali? 

Assentirão os touros em que brinquem com eles em público (o que, pessoalmente, nem me choca sobremaneira) e também em deixar-se espetar no lombo com uma farpas de ferro (o que deveria arrepiar qualquer humano)?

Por mim, apesar de nunca ter tido a sorte, ao contrário de outros, de ter visto rir vacas, também nunca vi nenhum sinal de satisfação nos touros espetados. Pelo contrário, neste particular, costumo ver os animais a protestar de fúria e dor pelo ataque, abanado-se para tentar soltar a farpa que lhes espetaram no corpo. 

É que, ao contrário do que se passa nos tais espectáculos miseráveis como a casa dos segredos e afins, ou no boxe, em que os alvos de violência são humanos, maiores de idade, supondo-se, pois, que neles participam voluntariamente, nas touradas não é assim. Neste último caso, os animais são sujeitos a práticas cruéis infligidas por humanos. Claro que por nobre razão: dá gozo. 

Pois, é que a possibilidade de escolha que nós humanos vamos ainda tendo nalgumas matérias, não existe para os demais seres da natureza. 

E não me venham com o argumento da alegada dignidade da morte dos touros na arena que é, desculpem-me, uma treta que não lembra a ninguém. Morte digna era no prado, preferencialmente de velhice.

Pessoalmente não tenho nada contra as touradas, desde que os touros sejam humanos voluntários, perseguidos por voluntários humanos, e se espetem farpas uns aos outros... Ou seja, já não falta nada, porque touradas destas também já temos e nem precisamos de ser voluntários para lhes assistir...

Sim, deve ser isso, senhor MST, o que me leva a dizer estas asneiras é ser estúpida, ignorante e insensível às coisas belas da vida. É isso, eu sei...


Uma nota de humor:



quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Perdoar e esquecer

 É curioso constatar que não inventamos nada. Parece que tudo o que pensamos já foi antes pensado. Concordo, plenamente, com o teor do texto que aqui deixo.



"Perdoar e Esquecer



Perdoar e esquecer equivale a jogar pela janela experiências adquiridas com muito custo. Se uma pessoa com quem temos ligação ou convívio nos faz algo de desagradável ou irritante, temos apenas de nos perguntar se ela nos é ou não valiosa o suficiente para aceitarmos que repita segunda vez e com frequência semelhante tratamento, e até de maneira mais grave. Em caso afirmativo, não há muito a dizer, porque falar ajuda pouco. Temos, portanto, de deixar passar essa ofensa, com ou sem reprimenda; todavia, devemos saber que agindo assim estaremos a expor-nos à sua repetição. Em caso negativo, temos de romper de modo imediato e definitivo com o valioso amigo ou, se for um servente, dispensá-lo. Pois, quando a situação se repetir, será inevitável que ele faça exactamente a mesma coisa, ou algo inteiramente análogo, apesar de, nesse momento, nos assegurar o contrário de modo profundo e sincero. Pode-se esquecer tudo, tudo, menos a si mesmo, menos o próprio ser, pois o carácter é absolutamente incorrigível e todas as acções humanas brotam de um princípio íntimo, em virtude do qual, o homem, em circunstâncias iguais, tem sempre de fazer o mesmo, e não o que é diferente. (...) Por conseguinte, reconciliarmo-nos com o amigo com quem rompemos relações é uma fraqueza pela qual se expiará quando, na primeira oportunidade, ele fizer exactamente a mesma coisa que produziu a ruptura, até com mais ousadia, munido da consciência secreta da sua imprescindibilidade." (o destaque é meu).

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Medo

Ocorreu-me agora que o medo que nos protege dos abismos é o mesmo que nos tolhe a ousadia.
O medo que nos salva das loucuras, trava-nos também a aventura.
O medo que nos impede de correr riscos, paralisa-nos a audácia.
Para ser feliz, preciso de viver no ponto de equilíbrio em que se situa o medo que me ampara, sem me castrar a coragem.

There is life before death

A existência ou não de vida para além da morte é assunto que tem sido objecto de reflexões e discussões, desde tempos imemoriais.
Por mim, crendo que não há vida para além da morte, é matéria que não me ocupa o pensamento, aceitando a minha crença sem qualquer angústia.
Com a mesma serenidade, e com alegria, acredito na existência da vida antes da morte.
Creio que essa vida acontece na sequência de uma complicadíssima teia de coincidências de que resultam seres únicos e irrepetíveis.
Sinto-me um desses seres, um dos tremendos acasos do Universo. NEle, depois de findar a vida que me anima, permanecerá eternamente (seja lá isso o que for) a matéria que agora me constitui.
Passados que estão os verdes anos da vida que me calhou, quero, cada vez mais, vivê-la sintonizada com esse Universo. Sou ainda aprendiz, mas sinto-me no bom caminho.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Resiliência

Esquece. disse.
Como esqueço? De que modo esqueço o inesquecível? Apago-o da memória, sem mais? Com que instrumento? respondeu.
Substituis essas memórias por novas experiências, que ocupem o mesmo espaço.
E isso é possível?
É.

Multiplicidade

Entra-me pelos sentidos o mundo, pelos poros. Tenho dificuldade em absorvê-lo, por ser tanto.
Entrego-me inteira.
Tantas dimensões que tem o mundo, sinto-me de todas. 
Viver é experienciar o Ser, nesta multiplicidade.

domingo, 18 de setembro de 2011

Hoje acordei assim

Enoja-me saber que a maioria de nós não passa de instrumento para o enriquecimento ilícito de alguns. É para isso que pagamos. E custa, sobretudo, porque o que pagamos nos sai directamente das entranhas, pelo trabalho que produzimos com esforço, às vezes com sacrifício. 
Os impostos que entregamos, em lugar de servirem para suportar os custos dos serviços que o Estado nos devia prestar, servem, cada vez mais, para pagar os buracos sem fundo sitos nos paraísos (fiscais ou outros) dos espertos e juros usurários. 
Cada cêntimo que nos esbulham para suportar a nacionalização do BPN, por exemplo, cai, inteirinho, na conta de um pançudo qualquer, seguramente fora do país.
Entregaremos brevemente o "fillet mignon" aos interesses privados que já se acotovelam para se afiambrarem (pensemos nas rotas apetecíveis da TAP- Brasil, Angola...).
Destrói-se a incómoda classe média, há-de ser taxada e humilhada até ao seu desaparecimento. 
Pois é...são perigosos os que lêem.
Hoje acordei assim. Agora chamem-me o que quiserem.



sábado, 17 de setembro de 2011

Baile de palavras

Compunha, se o soubesse, textos ricos de expressão.
Enrolaria as palavras, envolvidas em sentimentos e despidas de razão.
Nomes, verbos, adjectivos... com toques de pontuação.
O tom, dava-o a emoção.
No fim soltava ao vento o harmonioso encadeado das palavras, que bailariam, bailariam...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O banco

Primeiro...não, segundo...também não, terceiro...está quase.
Sentou-se e pousou a bengala. Era o quarto, o seu banco. Havia seis meses que ali se sentava, todos os dias, à mesma hora. No banco da frente a velha do costume.
Aos pés rodopiavam-lhe folhas secas, das árvores quase nuas.
Abriu o jornal, na página da necrologia, procurando nomes conhecidos, já ali encontrara muitos, o último, havia dois dias, o do Martins, rapaz do seu ano e companheiro da tropa. Fora-se. Mais um. Hoje não reconheceu ninguém. Desinteressou-se do periódico.
Vida maldita. Fingira acreditar no filho, coitado, que a casa era pequena, que o miúdo crescia e tudo se complicava. Eram as pingas, dizia ela, as migalhas, a roupa, que fedia e estava farta, ou ele ou eu, escolhe, bem ouvira.
Pegou na bengala, regressou, iam servir o jantar.
No banco ficou o jornal, ainda sem o seu nome.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Ai que nervos

Ai, não sei se o meu coração vai aguentar, não sei. Nem consigo imaginar a Luz, à pinha, a gritar pelo glorioso.
Ai, que se o Manchester der um baile à equipa da águia, saio triste, como a noite.
Ai, que se o Benfica ganhar ainda me dá uma coisinha, à pala da emoção.
Ai, que Deus me ajude.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Intolerante

 Dificilmente me sinto magoada.
 Só as pessoas significativas têm a susceptibilidade de me magoar e essas, geralmente, não o fazem. 
É que, para me sentir magoada, tem de existir uma acção maldosa intencional de quem eu repute de importante, sem um subsequente pedido de desculpa. Talvez por tanta exigência da minha parte, tenha sido magoada poucas vezes. 
Concluo, pois, que sou intolerante com as mágoas.





sábado, 10 de setembro de 2011

Benfica-Manchester

Sabem o que acabei de fazer, sabem? Tchananam.... comprei bilhetes para o futebol! Oh yé, já cá cantam.
Na próxima quarta feira vou, pela primeira vez na vida, pôr os pés na Catedral! E logo para ver um Benfica - Manchester, sem ser a feijões.
Vai ser uma emoçãoe carágo! Já me estou mesmo a ver a olhar para a águia a voar e a entoar SLB, SLB, SLB,SLB,SLB, glorioooso, SLB, glooorioso; SLB; e tudo o mais que for adequado ao momento. Vou gritar tanto que vou voltar rouca, oh se vou (tenho é de ter cuidado não vá o entusiasmo dar-me para a insatisfação com algum dos adversários (ou com o árbitro, que é a mesma coisa, hehehe) e sair-me algum impropério indigno de uma senhora. 
Aie... mal posso esperar.
Se ganharmos saio feliz que nem um cuco, se perdermos saio feliz que nem um cuco e a dizer (mais ou menos dez vezes): "Oh, que pena, foi giro, mas oh, que pena...". (depois venho aqui contar).
SLB, SLB, SLB,SLB,SLB, glorioso, SLB, glooooriooooso, SLB.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Virtualmente falando

O que é mesmo bom neste mundo virtual é que se fazem e desfazem afectos à distância de um clique.
Não acham fantástico? 
Antigamente, construir relacionamentos complexos, como amizade ou amor, era trabalho árduo e moroso. Por qualquer razão as pessoas encontravam-se e, depois, passavam-se muitos dias e vários convívios posteriores, até que descobrissem que eram amigos, ou que haviam construído outro tipo de relação. Em muitos casos, apesar de tudo, as pessoas consideravam conhecer-se apenas "de vista", se os contactos tinham tido pouco aprofundamento.
As distâncias eram quebradas por cartas, bem pesadas, mais pelo conteúdo do que ficava por dizer do que pelo que figurava escrito.
Se se perdia um amigo ou um amor, ficava-se a remoer no sucedido. Era quase assunto de Estado.
Tristes tempos aqueles. Tudo complicadíssimo. 
Agora é que é bom. Com meia dúzia de cliques, ganham-se meia dúzia de amigos. E, à distância de um clique, eliminamos definitivamente alguém das nossas vidas. A pessoa esvai-se, pura e simplesmente, da nossa existência.
Esses amigos que nos ganham com cliques, também são livres. Eliminam-nos com outro clique e pronto. Nada mais fácil. Amizades e, até, amores constroem-se e destroem-se, assim, rápida e eficazmente, sem deixar mossa. Ah e a granel.
Digam lá que não é fixe, hein?  

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

De-lírio

Quero uma casinha branca pequenina, no meio de um prado verde, pintalgado por papoilas, lírios e açucenas e, da minha janela, (continuar) a ver nascer o sol.
Sonho passar os dias a plantar, cuidar e colher.
De corpo cansado, vou deitar-me na rede e ler. Não, não quero escrever. O que sei eu, para ter a arrogância de escrever?
Sonho a calma, a serenidade. Só um nicho de afectos.


Prozac

Isto não vai acabar bem, dizia um amigo. Pois, isto não vai acabar bem. Seja lá o que "isto" for. Pensava no país ele, acho.
Hoje foi uma terça feira negra nas bolsas europeias, sobretudo na nossa.
Há dias subiu o IVA para o gás e para a electricidade. Não foi muito, só 17%. Que significado pode ter 17% de aumento num imposto? Nenhum.
Os transports também aumentaram, mas muito pouco, 15%. Trocos. Tudo trocos. Os salários foram reduzidos, mas quase nada, apenas uns míseros 5%. 5%, o que é isso? Pfff.
Isto não vai acabar bem, dizia o meu amigo. Nem sei porquê.
Então não temos o Serviço Nacional de Saúde? Que bom, temos saúde para todos. Vamos ao médico pedir Prozac, andaremos animados. Rebolaremos de riso com o anúncio do aumento dos impostos e redução de salários. Uma centena de despedimentos será comemorada com alegres cantares.
Quê? Já não há serviço nacional de saúde? E Prozac, também já não há?
Isto vai acabar mal...

sábado, 3 de setembro de 2011

Palpites de uma leiga

Todos os dias conheço novas lojas fechadas na Baixa lisboeta. Nos dias de trabalho, à hora do almoço, olho para o interior das que mantêm portas abertas e, com excepção daquelas que pertencem a grandes cadeias internacionais (Zara, H§M, Mango e afins), estão às moscas, pelo que me apanho a pensar quanto tempo demorarão a fechar.
Nos restaurante vê-se o mesmo cenário. Já ouvi dizer que um dos que frequento habitualmente corre o risco de fechar em breve, se as coisas não melhorarem, a clientela reduziu significativamente desde Janeiro.
Depois dos 3 PEC socialistas, já sofremos mais uns quantos PEC, ou apertos de igual natureza, com outra sigla qualquer, vindos da parte dos liberais.
Estes últimos, à boleia da Troyca, têm a oportunidade de ouro de adoptar as suas medidas de desmantelamento do Estado, reduzindo-o ao mínimo em áreas como a saúde, a educação ou a segurança social.
Malogradamente, a par dessas medidas, continuam a subir vertiginosamente os impostos sobre o rendimento (declarado) do trabalho e do consumo (anunciou-se, já, nova subida do IVA). Vai escapando a tributação do capital, com a justificação (numa miragem) de evitar a fuga de capitais para o exterior e de angariar investimento estrangeiro.
Já sabemos que não aumentarão só impostos, alegre-mo-nos, pois também vai aumentar o desemprego.Os incumprimentos das obrigações das famílias dispararão em flecha, com desastrosas consequências em toda a economia.
Tudo, quando a maioria de nós já não puder contar com cuidados de saúde, educação e apoios sociais.
No próximo ano, talvez o senhor PR diga, de novo, que não se podem pedir mais sacrifícios aos portugueses (parece-me que o disse a Sócrates, ultimamente tem estado de férias).
Palpita-me que, lá para Janeiro ou Fevereiro, o pessoal estoira. Como será o estoiro? Esse palpite não consigo dar... Oxalá não seja a acabar com o resto, partindo tudo, sei lá...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Doce Setembro

Habituei-me a viver o Setembro como mês de transição entre o "dolce fare niente" e a vida de azáfama.
Na infância, depois das longas férias do mês de Agosto da família, regressava-se a Lisboa e dava-se início aos preparativos para outro ano lectivo que se aproximava.
Compravam-se os livros novos e o material escolar. Lembro-me da fantástica sensação de tocar em todas aquelas preciosidades e, ainda hoje, mantenho o gosto por ter folhas, cadernos, canetas, lápis e borrachas novos. Quando entro numa papelaria e vejo toda a parafernália de material novo e moderno, fico com o síndrome de criança em loja de doces, desejando tudo.
Preparavam-se os atavios para levar à escola. A mãe tricotava casacos e camisolas, que haviam de ficar escondidos sob a bata branca da escola primária.
Esperava, ansiosa, os dias de se fazer o doce de tomate, a marmelada e a geleia.
Na altura própria, a mãe comprava no mercado uns quantos sacos de tomate bem maduro e de marmelos. Nem tudo era comprado no mesmo dia, porque tinha de os transportar nos braços, do mercado até casa, e subir, com eles, ao nosso 1º andar, sem elevador.
Chegado o dia, a actividade começava bem cedo na cozinha. Lavar e pelar o tomate, abri-lo para lhe tirar as grainhas e, depois de pesado, pô-lo dentro da panela, com idêntica quantidade de açucar e alguns paus de canela. Havia de estar em lume brando umas quantas horas, mexendo-se frequentemente com uma colher de pau, para não pegar ao fundo. Pronto e arrefecido, entornava-se para dentro de frascos grandes, e, antes de os fechar, cobria-se o doce de papel vegetal pincelado com água-ardente, não fosse o bolor atacar o futuro recheio do nosso pão.
Noutro dia, era a vez da marmelada e da geleia. Descascados e descaroçados os marmelos fazia-se a marmelada, aproveitando-se cascas e caroços para cozer em água que havia de ser coada e fervida com açucar. A marmelada colocar-se-ia em tigelas de loiça, coberta com papel vegetal, e a geleia em frascos. Outro dia de actividade intensa na cozinha.
Não sei o tempo que demoravam estas actividades, mas parecia-me muito. Era tudo feito cuidadosamente, de modo a que ficasse perfeito. O ponto em que devia ficar o cozinhado, o seu sabor e cor, eram meticulosamente acautelados.
Estas compotas proporcionar-nos-iam meses invernosos de doces colheradas consoladoras.
Que saudades...