segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Em modo fim-de-ano

Está quase a acabar este ano e a chegar outro.
Cá por mim, vou fazer a passagem no melhor lugar do mundo e com as melhores companhias que poderia ter. Estou a preparar-me para a festa.
Venho aqui, num instantinho, desejar-vos um 2013 cheio de venturas.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Primeiro café à direita

Amanhã acaba o calendário Maia, parece. E, quando acaba o calendário da civilização Maia, acaba o mundo, parece.
Não sei se com o mundo acabado cá ficamos ou vamos para outro lugar.
Se for para partir, lá nos encontraremos no destino. Bebemos um copo no primeiro café à direita que aparecer.
Até lá.


domingo, 9 de dezembro de 2012

Nostalgia

Este é o meu primeiro Natal sem pais. Partiram, numa viagem sem regresso, e sinto-lhes, tremendamente, a falta.
Quando pararam de respirar não esperneei. Chorei baixinho. Esperava-o, a qualquer momento, e aceitei, como aceito tudo o que a vida me entrega: o bom e o mau.
Pus mãos à obra e fiz tudo o que entendi que tinha a fazer para pôr em marcha a resolução prática das sua mortes, como já o havia feito no final das suas vidas, quando se tornaram dependentes.
Hoje sinto o quanto mudou a minha vida com a sua perda. Mudou tudo. O forte suporte familiar que constituíam, mesmo com a aparente fragilidade, ruiu.
Agora, já pouco é coeso, esboroaram-se ligações. Fica uma ténue espuma das ligações que forjaram.
Mãe e Pai, que pena tenho de, racionalmente, não vos poder dizer: Voltem, eu morro de saudades vossas.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Homenagem


"Não é o ângulo que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo Homem. O que atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, no cursos sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo de uma mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo - o Universo curvo de Einstein" 

Oscar Niemeyer


"A vida é um sopro"




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O calor do Natal

Chega, agora, o Natal.
Vem ao de leve, devagarinho.
Parece que está disfarçado o Natal. Não se vislumbram euforias, nem grandes festejos.
Em Lisboa espalharam algumas luzinhas alusivas à quadra. Compuseram uma árvore moderna, na Praça do Comércio. As lojas alindaram-se com modestos enfeites.
Na cara das pessoas não se vê o Natal.
Eu gostava que nas ruas não se usassem luzes de Natal. Custaram tanto dinheiro, gastam electricidade. Gostava que o dinheiro das luzes deste Natal, que não tem brilho, antes servisse para agasalhos e comida quente para as pessoas que não vão ter calor no Natal.
Desejo-vos, a todos, um Natal confortável, de calor e de afecto.
Feliz Natal.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

À bastonada

Hoje a polícia deu umas bastonadas num grupo de desordeiros que se infiltraram numa manifestação frente à Assembleia da República.
É a vida...
Actuaram bem os agentes policiais. Depois de várias horas a serem insultados e agredidos com pedras arrancadas à calçada, os polícias advertiram que avançariam caso fosse necessário... e assim fizeram.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

As castanhas

Chegou a época das castanhas.
O seu aparecimento sazonal marcou, desde sempre, a minha vida. Lembro-me de, na infância, estarem guardadas na despensa da cozinha de Lisboa, vindas da aldeia, dos castanheiros que o pai plantou.
Já na minha casa chegavam-me também, oferecidas pelos pais, trazidas da aldeia, dos castanheiros que o pai plantara.
Os pais partiram. Os castanheiros ficaram, agora são meus, os castanheiros que o pai plantou.
Já vêm a caminho as castanhas, caídas dos castanheiros que o pai plantou.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Saudade

Hoje é dia de celebrar a saudade. É dia de, especialmente, relembrar aqueles que comigo partilharam a vida e já partiram.
Já são muitos os que foram, para uma viagem sem regresso. Lembro amigos, familiares mais longínquos ou mais próximos.
Penso, com dor, em três das pessoas que mais amei e que mais me amaram na vida: os meus pais e o meu amor, que foi o pai dos meus filhos. Estes três deixaram-me órfã e muito perdida.
Com uma vida cheia de coisas para fazer, encontro-me muitas vezes confusa por perceber que já não os tenho. Serviram-me de bússola, enquanto os tive, continuam como referência, embora já não estejam.
O conjunto daqueles que já perdi, ao longo da vida, faz-me assimilar que já vivi muito e que, um dia, inexoravelmente, chegará a minha vez de partir também.
Por agora, aqui estou, com os pedacinhos deles que comigo ficaram.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dia das bruxas

Lá foi aprovado o OE do nosso descontentamento. Com os votos contra de toda a oposição e de um deputado do CDS.
Porque será que não me sinto nada original quando penso que este OE nos conduzirá ao abismo grego?
A espiral recessiva já se instalou e d'ora em diante será impossível travar o buraco, que será cada vez maior.
Ai... quem me dera estar a ser apenas profeta da desgraça e não tivesse razão nenhuma...
Assim não vamos a nenhum bom caminho.
Entretanto, cá em casa, vou sendo fadinha boa. Tenho muitos meninos para cuidar.
Bye.

sábado, 20 de outubro de 2012

Aqui estou

Aqui estou, neste sábado solarengo de Outubro.
Tenho-me dividido entre a vida e a crise no país.
Hoje escolho a vida.
Escolho o sol que entra pelas janelas, a música que enche a casa e a alegria dos meus amores.
Escolho a manta de lã encarnada sobre os joelhos, o pc no colo e os gatos que ronronam ao redor.
Aqui estou, neste consolador conforto, consciente dele.

domingo, 30 de setembro de 2012

O Pedro das farófias

Sentou-se no sofá da sala, ao lado da mulher a desejar uma Páscoa feliz aos portugueses.  Disse gostar de cães e de cozinhar. A melhor sobremesa que faz são farófias. Negou aumentos de impostos e corte de salários.
O povo acreditou e rejubilou. Elegeu-o.
Formou o menor Governo de todos e passaram a viajar em turistica, na Europa. Começou a aumentar os impostos e foi retendo salários: o desvio colossal assim o justificou. Aconselhou os jovens qualificados a emigrar, oferecendo ao estrangeiro o investimento que fizemos nessas pessoas
O povo aceitou, sofrido mas calado.
Chegaram os resultados dos sacrifícios. Aumento brutal do número de desempregados, receita fiscal com queda abrupta na área dos impostos sobre o consumo, falências na hora, aumento brutal do número de cidadãos a viver abaixo do limiar da pobreza. Perda de habitações e economia rebentada.
E as boas notícias? Redução do déficet (um mísero ponto percentual) e equilíbrio da balança comercial: as exportações de ouro aumentaram (vendido pelas famílias para responder às necessidades básicas), bem como a dos automóveis que haviam sido importados mas não se conseguiram vender por cá... As importações, por sua vez, tiveram uma forte quebra, traduzindo a redução dos rendimentos das pessoas e a sua baixa capacidade para consumir.
Entretanto as pessoas perceberam que estão pobres, a recessão está em roda livre, a rocha que parecia ser o Ministro das Finanças a demonstrar total incompetência face à assimetria escandalosa entre os números previstos e os números efectivos e o Borges a levar em frente a política das vendas em saldo e da aposta no empobrecimento das pessoas, apoiada pelo homem das farófias.
Quanto a demonstrar na Europa que a política seguida só nos pode conduzir à catástrofe, não se vê nada.
Por aqui estamos, nas mãos de um Governo incompetente, patético, mas que continua a seguir a cegueira da sua política: reduzir o valor do trabalho para atrair investimento estrangeiro. Acabar com o Estado social, por vontade própria.
Até à troyca e mais além.
Pedro, mataste-nos a esperança.
Pedro, vai...fazer farófias.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Hello, my name is...

Na minha casa não sabem explicar porque nos têm amor. Parece que os anima verem-nos a correr e a fazer piruetas. Acham o nosso pêlo macio e fofo e não se cansam de nos dar colo e festas. Eu, cá por mim, só aceito quando entendo.Quando não estou para aí virada esperneio até me devolverem ao chão.
Estou a viver bem, tenho muitos recantos para explorar e isto é uma animação. Bom, quer dizer... dois dos que já cá viviam não me pareceram muito animados com a minha chegada. São uns chatos. Correm pouco e não aderem aos meus convites para a brincadeira.
Pff, devem ter a mania que são bons, mas é para o lado que eu durmo melhor, "para quem não quer há muito", já dizia a minha avó.


Julieta


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Summer nights


Livro

Nas férias faço o que me apetece.
Durmo quanto quero, leio quanto posso e "papo" os filmes em lista de espera.
Este deverei-o num ápice. Todinho num dia. Adorei.
Foi o meu primeiro de José Luís Peixoto, mas garanto que não foi o último. Grande escritor, já o sabia. Grande escritor, agora asseguro eu.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sophie Scholl

Voltei para vos aconselhar um filme que acabei de ver. Retrata os últimos dias de uma heroína alemã vítima do nazismo.
Sophie Scholl foi condenada à morte por um tribunal alemão, em Fevereiro de 1943, aos 21 anos, por ter distribuído, na Universidade de Munique, que frequentava, panfletos contendo mensagens condenatórias das atrocidades do nazismo.
Não cedeu à tentação de ver melhorada a sua situação processual renegando os ideais em que acreditava: a igualdade de todos os humanos; a bondade da democracia, da liberdade de expressão e da paz.
Obrigada e R.I.P. Sophie Scholl.


sexta-feira, 8 de junho de 2012

Bye bye

Constato, com curiosidade, que decorridos alguns meses sobre o início desta minha aventura de blogger tive cerca de 10000 visualizações. É engraçado.
Quando tudo começou não me passava pela cabeça que passaria pela cabeça de tantos virem até aqui.
O partilhável nestas paragens está esgotado. A fada vai voar noutra direcção.
Obrigada a todos quantos me visitaram e, especialmente, aos muitos que, de vários modos, me manifestaram o seu apreço e carinho.


terça-feira, 5 de junho de 2012

Selecção

Gosto de futebol. Não sou grande especialista na matéria, mas gosto.
Costumo ser particularmente efusiva nas competições em que esteja envolvida a selecção nacional.
Mas o folclore que tem sido feito nos últimos dias em torno da selecção e da sua participação no europeu de futebol já me dá vómitos.
Chiça, não se aguenta tanta notícia. Não há canal televisivo nacional que não esteja a falar nos meninos, nas suas espectaculares declarações (os coitados também já não sabem o que hão-de dizer perante as insistentes perguntas estúpidas de jornalistas), na hora a que o avião devia levantar voo e não levantou, e mais isto e mais aquilo.
Já não há pachorra.
Desejos-lhes uma boa campanha neste europeu, embora não tenha fé nenhuma.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Glory days

O Parque da Bela Vista estava à pinha e só não foi abaixo porque o chão era duro. 
Caramba, que "ganda" concerto. 
Ele há gente que tem uma energia que até parece ter o diabo no corpo e, decididamente, nesta matéria, o "boss" não deixa os seus créditos por mãos alheias.
Se o dia de hoje foi difícil? Ai não que não foi.  Mas há coisas que ficam para sempre e tenho a eternidade toda para dormir.


terça-feira, 29 de maio de 2012

Feita num 8

Retorcida, empurrada, esmigalhada, esborrachada.
Arranhada, amassada, amolgada, espalmada.
Amarfanhada, adorada, tiranizada, subjugada, escravizada... pelos meus (?) gatos.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Por qualquer razão...

Por qualquer razão, hoje estou cansada;
Por qualquer razão, hoje estou feliz;
Por qualquer razão, hoje estou completa;
Por qualquer razão, hoje estou assim...


sábado, 26 de maio de 2012

Preguiçando

Passa das 3:00h. Depois de duas horas de sono reparador, da 23h à 1h, acordei para a festa da sensação da distante segunda feira.
Hoje serviu para ler Ken Follet ,"Os pilares da terra". Simplesmente magnífico: Um mosaico da sociedade na Inglaterra do século XII , partilhando a vida das pessoas comuns.
Louvados sejam os escritores que, como este, nos arrancam das rotinas, estimulando-nos a imaginação.
O difícil foi sair do livro para voltar aqui, ao século XXI, e tentar dormir.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Polvilhar e levar ao forno

Parece que o défice do Estado subiu para 3,05 milhões de euros, soube-o agorinha.
Mas não há que preocupar. Agora que há um pacto para fomentar o crescimento da economia a coisa vai lá.
Polvilha-se a economia com o pacto, leva-se ao forno e vai ser vê-la crescer...
Porque é que a minha desesperança é cada vez maior? Oh gentinha pessimista, eu.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ecletismo

O belo não é o puro, é o ecléctico, a miscelânea, a mescla,  o compromisso, o entendimento...

domingo, 20 de maio de 2012

Talento

Neste livro de fada tenho inscrito tantas coisas.
Coisas sem jeito, coisas sem graça.  Coisas.
Coisas simples, alegres e tristes, que me ocorrem.
Isto e aquilo. Coisas com nexo e sem nexo. Verdades e mentiras.
Vida e imaginação.
Hoje quero cá o talento. Trago Jorge Palma.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sonho e promessas

Sobre a morte de Bernardo Sassetti o melhor que li, para achar algum consolo, foi: "Precisaram de um pianista no Céu".
R.I.P. génio.




quinta-feira, 10 de maio de 2012

quarta-feira, 9 de maio de 2012

I can get no satisfaction


     Segunda feira lá fui bater com os costados à cidade "imbicta", debaixo de chuva torrencial, tendo regressado à capital a desoras, depois de longa jorna de trabalho, mais molhada que um pinto.

          Bem resmunguei e clamei por um bocadito de sol, mas nada.
          Vai daí hoje, já apanhei com uns raios na moleirinha, que até os miolos se me cozeram.

          Não há meio de me sentir satisfeita com a meteorologia.






terça-feira, 8 de maio de 2012

De pernas para o ar

Agora, que o Syriza pôs os mercados financeiros de pernas para o ar, vou dormir.
Boa noite e fiquem com a "cantiga para quem sonha".

"(...) compra pão e vinho, mas rouba uma flor, tudo o que é belo não é de vender"

















Enxertada em corno de cabra

Com a idade passei a ter a graça de saber observar a maioria dos assuntos com uma enorme bonomia e condescendência.
Mas ainda me acontece, cada vez mais raramente, que quando estou convencida da bondade de determinada posição, fico imbuída do meu espírito apaixonado na defesa daquilo em que acredito. Nessas alturas, defendo os meus pontos de vista com unhas e dentes. Ou, como me dizia alguém, carinhosamente, "és enxertada em corno de cabra". Pois, é mesmo verdade que sou assim.
Por outro lado, tenho a outra face da moeda, já que nada me é mais fácil do que reconhecer um erro e, se for o caso, pedir desculpa.
Lembrei-me disto.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

QUANDO OS LOUCOS GUIAM OS CEGOS


Pedro Guerreiro no seu melhor. Subscrevo na íntegra.
"ANATOMIA DE UM GOLPE
Contado, toda a gente acredita: o Pingo Doce dá um super-desconto, a população adere em massa, é um golpe genial. Visto, é inacreditável: uma turba faminta amotina-se, espanca-se, enlouquece, encena uma pilhagem sórdida. É uma miséria de marketing. É um marketing da miséria. "O balanço é positivo, considerando-se a acção como conseguida".

Primeiro, o acessório: este 1º de Maio alterou o equilíbrio na distribuição em Portugal. Este não foi um episódio único, foi uma afirmação de poder da Jerónimo, que vem perdendo para as estratégias agressivas de descontos da concorrência. O Continente chega aos 75% em certos produtos e horas; o Lidl está a quebrar 33%; o Pingo Doce entrou no jogo em grande estilo. Arrumou o assunto com uma bomba de neutrões. Pôs o país a falar disso. Arruinou o mês à concorrência. E fê-lo provavelmente perdendo dinheiro, o que significaria que comprou mercado.

Dar um desconto de 50% num cabaz significa ter uma margem média de 100% para ganhar dinheiro. Margens médias de 100% na distribuição são como manadas de gazelas na Atlântida, não existem. Dir-se-á: e os clientes com isso? É concorrência e a concorrência é linda. Pois, mas esta é feia. Porque se é abaixo de custo, a do Pingo Doce ou a do Continente, não é concorrência, é anti-concorrência. É destruir concorrentes que não suportam predações. É aniquilar fornecedores que as subsidiam.

A distribuição não é para meninos. É um negócio de margens reduzidas, negociações complexas, de um conhecimento quase doentio dos hábitos dos clientes. Fazem-se promoções ao meio-dia porque quem está com fome compra mais. Perfuma-se o ambiente com pão quente porque se vende mais. Dispõe-se os alhos ao pé dos bugalhos, nivela-se as prateleiras pela criançada, desnivela-se a iluminação entre dois corredores, puxa-se o lustro à fruta. É assim. E a Jerónimo Martins é o melhor grupo português a fazê-lo. É a empresa mais valiosa em Bolsa. Vale mais que a Galp.

Agora, o Pingo Doce inicia uma mudança estratégica. Esta é uma campanha de "hard discount", um posicionamento mais "baixo" do que o actual desta cadeia. É por isso que esta operação não tem a mão de Alexandre, o patriarca, mas de Pedro, o sucessor, que carrega uma década de grande sucesso deste modelo na Polónia. Esta é a afirmação, surpreendente e bombástica, da sua gestão. Vem aí mais disto. "Hard discount" quer dizer desconto duro. Assim será: duro. Vale tudo menos arrancar olhos?

Também vale arrancar olhos. Assim foi neste 1º de Maio. Cenas lúgubres em todo o país. Os gestores viram um livro de marketing a ser implementado. Os economistas viram um livro com curvas de oferta e procura. Os juristas viram um livro de direito da concorrência. Eu vi um livro de Saramago a escrever-se sozinho.

Já foi escrito: a reacção dos clientes é racional, nada a apontar. Faltou escrever: quem organizou o circo romano sabia ao que ia. E orgulhou-se no dia seguinte. Ficámos a saber como está o país. A violência que não se vê nas manifestações de rua comprime-se no afã vidrado de uma fila de supermercado.

Esta não é uma questão entre direita e esquerda, entre idiotas e ideólogos, entre moralistas e pragmáticos, não é distracção, não se compara com saldos de trapos nem com liquidações de livros. Porque nenhuma dessas promoções provoca estes tumultos descontrolados. Talvez só uma oferta de gasolinas produzisse a mesma loucura.

Numa entrevista notável, a Teresa de Sousa, publicada no Público este domingo, Rob Riemen, que não tem medo de falar de fascismo, afirma: "O espírito da democracia quer dizer que a verdadeira democracia é o oposto da democracia de massas." Riemen refere-se a Tocqueville ou a Gasset. "Ou Espinosa, para quem uma verdadeira democracia significa que somos mais do que indivíduos, aspiramos a ser pessoas de carácter, que não somos apenas motivados pelo medo, pela ganância, pela estupidez, mas capazes de um pensamento e de escolhas".

Acicatar a voragem desumana, como se viu neste Maio, não faz parte dos valores que Alexandre Soares dos Santos construiu. De defesa de salários dignos, de criação de postos de trabalho, de assistência social aos funcionários em dificuldades. Nem serão os valores de Isabel Jonet, que gere no Banco Alimentar situações de pobreza extrema com tacto social e dignidade individual. Isto é uma manifestação de poder autoritário.

Disse Frei Fernando Ventura, nessa noite, na SIC Notícias: "Quando vi as imagens do Pingo Doce, fiquei triste e alarmado. Vi isto na Venezuela, com o Chavez, exactamente o mesmo tipo de reacção. Fiquei com esta imagem como um ícone, ou como um contra ícone, uma mensagem de sinal contrário daquilo que é uma das urgências a descobrir hoje". E disse mais: "Nós, em alguns arroubos místico-gasosos, ficamos muito alarmados e muito agitados interiormente com a multiplicação dos pães e dos peixes. Se nós percebêssemos o que está ali (…). Só houve multiplicação porque houve divisão. A solução tem que passar por aqui: é preciso dividir para multiplicar e é preciso somar sem subtrair nada a ninguém. O segredo está aqui. A chave está aqui. E por aqui pode construir-se a esperança. Por aqui pode criar-se redes de relações, por aqui pode dizer-se às pessoas que a esperança é possível. É preciso organizar esta esperança."

Para o Pingo Doce, os descontos do 1º de Maio terão sido um golpe de marketing ou um anúncio de uma nova estratégia. Mas para os portugueses, que reviram um país negado e renegado, foi mais do que isso. Foi uma humilhação. Como no "Rei Lear", de Shakespeare: "Esta é a praga deste tempo, quando os loucos guiam os cegos".

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A fórmula

Não podem ser os fazedores de discursos redondos que todos os dias nos inundam as cabeças, a mandar no mundo. Tretas, só dizem tretas.
Carneirinhos é como eles querem que sejamos.
Os motivos para a insatisfação das pessoas são mais do que muitos. Já não se aguenta tanta incompetência, tanta arrogância, tanta sobranceria, ditada pela meia dúzia de pseudo-iluminados, que detêm o poder.
Não acredito que no planeta hajam tão poucos capazes, como alguns (poucos) que se conhecem, para tomar as grandes decisões. Certamente que os sábios não detêm o poder, se assim fosse o mundo seria melhor.
A Ciência, há-de ser a Ciência que vai oferecer-nos a resposta. Acredito que algum jovem cientista descobrirá a fórmula para dar a dignidade que tem faltado ao humanos poderosos.
A fórmula química que se encontrar há-de transformar os que detêm o poder em pessoas de bom caracter, atentas ao sofrimento dos outros e aptas a proporcionar-lhes uma vida digna.
Não, não podem ser como são os que governam o mundo. Têm de ser melhores.





sábado, 28 de abril de 2012

Pinceladas da minha cidade - III

Cada vez gosto mais de Lisboa. É tão bonita esta cidade.
Cidade de recantos mágicos, é o que é. De luz intensa.
Há dias, nas Escadinhas do Duque, comi uma maravilhosa salada de pétalas de flores que acrescentou encanto à minha vida.
Deixo-vos a foto que tirei à porta do "restaurant", onde me aguardava sublime companhia.



quarta-feira, 25 de abril de 2012

Pedaço de mau caminho

A vida nem sempre é fardo e coisa séria, tem o leve leve.
Tem momentos positivos, que acrescentam o coração e aumentam a longevidade.
Tem doces pedaços de mau caminho...



E porque ainda é Abril


Lembrar Abril



Nunca, ao longo dos 38 anos de democracia em Portugal, festejei convenientemente o 25 de Abril pelos motivos que justificam o feriado. Costumava beneficiar do dia de folga daquele jeito displicente com que gozamos a saúde, sem nos lembrar de a agradecer. Um bem adquirido, simplesmente.
Este ano quero recordar Abril.
Em lugar de palavras como crise, juros, mercados, cortes, quero lembrar valores como a Liberdade, a Democracia, a Fraternidade, a Igualdade e a Paz. Valores que se esqueceram ou, pelo menos, que vemos afrontados.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

Morna

Concentrada em trabalhos jurídicos e afins enclausurei o coração no pragmatismo que lhe não pertence.
Os auscultadores nos ouvidos que me isolam do mundo ao redor, com a música que me oferecem, transportaram-me às mornas caboverdianas e logo se me incendiaram as entranhas.
Huummmm... Àfrica.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ary

Dia 23 de Abril, no Martinho da Arcada, celebraremos a poesia de Ary dos Santos.


terça-feira, 10 de abril de 2012

Marmitas & companhia

Para esta fada, que tem mais de duas décadas de vida profissional, aproveitar a pausa de almoço para se dirigir a casa de pasto, era hábito adquirido. Não, nada de fidelidade ao mesmo restaurante, era uma vez aqui outra acoli.
Da refeição completa " à maneira", a coisa mais leve, sempre fiz jus aos hábitos dos cidadãos do sul da Europa que não prescindem da sua pausa para almoçar no restaurante, diferentemente dos do norte que, sendo mais frugais, se ficam pelo chá, sumo e sandocha.
Ora pois, aqui a menina fada resolveu adotar mais uma medida de austeridade e transformar-se em marmiteira. Alto lá, mas com estilo.
Já viram a minha nova marmita? Não é um must? Adoro-a! É térmica, prática e, sobretudo, tão feminina e bonita.
Pobres, mas giríssimas. Nunca foi tão trendy ser marmiteira.

(Ah, as idas ao "restaurant" ficam reservadas para ocasiões especiais, em coisa de qualidade, com vinho tinto... )

sábado, 7 de abril de 2012

PÁSCOA

Com o espírito em renovação, abraço e aperto contra o peito a Páscoa.
Pela primeira vez, fiz o ninho com as minhas mãos. Ficou fantástico.
Mesmo que às vezes não pareça, tudo o que contém a magia do amor é belo e reconfortante.
Uma boa Páscoa para todos.

P.S. Deixo a foto do meu ninho. Como tudo o que amo, parece-me lindo.


Graffiti

A propósito do que se escreve nos blogs, o personagem de um filme dizia que não é escrita, mas "graffiti com pontuação".
Achei a ideia interessante, assentou que nem uma luva no que penso que venho aqui fazer- graffitis. Estes meu desenhos são só rabiscos, mas há quem em graffiti faça arte. Se até a fachada do Tate Modern se enfeita com graffiti.
Os meus graffiti são riscos pretos, nas dores. Em dias luminosos imprimo aqui as cores de Matisse.
Hoje deixo-vos um castelo encantado.




sexta-feira, 6 de abril de 2012

Country roads


Oh, abençoado descanso.
Louvada seja a boa vida.
Daqui a pouquito enfio-me na "voiture" e vou explorar o campo, ides ver.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Planeamento

Sabem do que é que a fadinha gosta?
De viajar. Nada como entrar num aviãozito e ir pregar para outra freguesia, com fregueses diferentes.
E nas viagens gosto de tudo. O planeamento já é uma "curte": pensar num destino de eleição, escolhê-lo, fazer pesquisas várias, datas de ida e regresso, ver a oferta de hoteis, o que têm para nos proporcionar, onde se situam...
Hoje decidi o meu próximo destino de férias. Já fiz as reservas, um dia destes digo-vos qual é, para já, só adianto que é este o meio de transporte que vou usar (ah e a Companhia também é esta):


Medidas anti-crise

Vinha aqui falar-vos das muitas medidas que a fada tomou na sua vidinha para afugentar a famigerada crise, mas resolvi não o fazer.
São só coisas sem graça, como ter cortado os cartões de crédito com uma tesoura e tê-los atirado para o lixo feitos em bocaditos; ter passado a usar o bi-horário da EDP à força toda; ter dispensado os serviços da D. Filomena e de ter botado as lindas unhas vermelhuscas no meu "Ferrari" de engomar roupa; de ter passado a dar garagem ao carro e usar o comboio da CP; and so on.
Antes quero informar-vos de que resolvi curar-me da noticíodependência de que padecia. É que já não aguento tanta lavagem ao cérebro e tenho sido acometida de acessos de loucura consistentes em falar para os senhores que aparecem na tv, não raro com recurso a palavras ditas impróprias. Ao menos a ouvi-los não estou obrigada, kéisto? issakérabomm!




sexta-feira, 30 de março de 2012

Às sextas

Às sextas acordo feliz,
às sextas a vida é leve,
às sextas os planos são muitos,
às sextas tudo é possível,
às sextas as noites são longas,
às sextas o mundo é meu.


It´s raining again

Está a cair água do Céu cinzento. Há um ror de tempo que não via espectáculo semelhante. Tinha esquecido o som da chuva na janela. Viva!


quinta-feira, 29 de março de 2012

British fairy

Apeteceu-me voltar aos bancos da escola.
Escola mesmo, nada de Universidades para pós graduações, mestrados ou doutoramentos, nãã isso não me apetecia.
Decidi aperfeiçoar o meu domínio do inglês. Pois é, na próxima semana lá vou de caderno e esferográfica em punho, direitinha à Cambridge School, para as aulas.
Olarilolé, vou transformar-me numa very british fairy.


quarta-feira, 28 de março de 2012

A janela

Entrou a Primavera, não há dúvida. Sem necessidade de olhar o calendário ou de sentir a temperatura, sei bem que a Primavera chegou.
Não, não vi nenhuma andorinha nem atentei nos campos floridos, contudo não  me restam dúvidas de que Ela por aqui passa.
Também não é Verão, não, são de Primavera os sinais.
Retomo, pela janela, aquela vida, cuja meada perdi com as primeiras chuvas frias. Mantém-se afirmativa, convicta, soltando pela janela os seus discursos carregados de certezas absolutas.
Vou-lhe acompanhando a solidão, enquanto a espanta no aparelho que lha conduz aos ouvidos dos seus interlocutores.
Anunciar-me-á o Verão, com os seus longos discursos nocturnos, mas é cedo, as noites ainda estão frias.



segunda-feira, 26 de março de 2012

Submersa

Nem sempre os sentidos alcançam a Verdade.
Ela envolve-nos, toca-nos, faz-nos tangentes, anda longe às vezes. Quase nunca a sabemos.
Alguém me percebe, aqui?


segunda-feira, 19 de março de 2012

O caminho

Não sei se só agora descobri o caminho ou se o já o conhecia e não sabia.
Não sei se antes me julguei no trilho certo, para depois me sentir perdida, não sei. Acho que foi isso.
Gosto deste lanço da viagem.






quinta-feira, 8 de março de 2012

O lado feminino da vida

A crónica da fada estava a encaminhar-se no sentido de discorrer sobre a bondade das comemorações do dia internacional da mulher, como data instituída em 1910, depois de um conjunto de operárias fabris dos EUA, terem encetado, em 1857, uma greve, reivindicando a redução do número de horas de trabalho, de 16 para 10, tendo ainda manifestado a sua insatisfação por auferirem menos de 1/3 do salário dos seus colegas homens e de, em represália, terem morrido mais de uma centena num incêndio que deflagrou na fábrica, onde tinham sido fechadas.
Estas reivindicações vieram, paulatinamente, a melhorar as condições de vida da sociedade em geral. À época dizia-se que os homens estavam protegidos por baixo das saias das mulheres, já que a maquinaria industrial não podia ligar-se se elas não estivessem para produzir o trabalho que lhes competia, pelo que os homens também viram o seu número de horas de trabalho diário reduzido.
Mas não, não é sobre isto que a fada quer falar neste dia internacional da mulher.
O que a fada quer dizer é que é urgente chamar o feminino ao poder. As emoções, os afectos, a não violência (da progesterona) que, arquetipicamente, são características femininas, devem ocupar o poder. São esses tesouros que trazem conforto e maciez à própria existência e à daqueles com quem nos relacionamos.
Mas de nada vale que uma mulher esteja no poder a fazer a mesma coisa que um homem. A boa influência não está na mulher, mas sim no lado feminino de todos os seres humanos.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Vaidade

Somando




a






é igual a uma dor de pernas que eu é que sei. 

Oh, vaidade vã.


Sete pecados

Ora, aqui estão sete pecados.
Tenho estado cá a pensar que poderia cometer um por cada dia da semana que se avizinha. Hummm... mas não. Ficar-me-ei pelos meus três de eleição. Aposto que não adivinham quais são. Querem que vos faça um desenho, ou que vos indique as cores?




domingo, 4 de março de 2012

Queda livre

Esta semana foram só boas notícias: O PIB baixou, o desemprego subiu, as exportações decresceram e a dívida pública aumentou.
O que nos anima é que estamos no bom caminho...
Prossigamos, pois.


sábado, 3 de março de 2012

Fui roubada

Toque-toque a caminho de casa, telefonema para a Pizza Hut (que hoje não há tempo para cozinhados) e toca de me especar em frente à TV, a jantar pizza e apoiar o Glorioso.
Ai que tristeza, tristezinha quando ouvi o apito final, com a derrota do meu Benfica, sacada com um golo em fora de jogo.
Não é justo, pá. Apeteceu-me arrancar o cabelo ao árbitro, o homem estava cego, ou quê?  ( há jogos que me transformam numa autêntica hooligan, grrrrrr).



sexta-feira, 2 de março de 2012

O Século

Ansiosa, ansiosa por que apareça nos escaparates o segundo livro da trilogia "O Século",  de Ken Follet. O primeiro livro encantou-me.
De forma magistral, Ken Follet entrelaça a vida dos personagens em relações de amor, amizade e de ódio, oferecendo-nos uma leitura prazenteira e pejada de ensinamentos.
O livro é uma lição de História contada com base em personagens reais e outras fictícias, fazendo-nos submergir na 1ª Guerra Mundial, vivida por diversas famílias de vários países: da Rússia à América, da Alemanha e de Gales; no movimento sufragista feminino e na Revolução Russa.
O segundo livro é esperado em 2012. Já passaram dois meses e nada. Estou desejosa, desejosa por conhecê-lo e devorá-lo.




quinta-feira, 1 de março de 2012

Van Gogh

Calcorreando o Museu Van Gogh em Amsterdão, conheci a vida  e admirei a obra do autor. Saí deslumbrada, rica e a agradecer a capacidade de me espantar.


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Dependências



Não sei como me enfeitiçam, os gatos.
Perdoo-lhes tudo. Permito-lhes o que quiserem.
Tranquilizam-me, os gatos. Aquecem-me.
Preciso deles, dos gatos.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cabeça oca




Fiz acordo comigo de alimentar diariamente o espaço da fada.
Só que me esqueci da necessária existência de dias vazios.
De ocasiões em que há falta de espaço mental para o desiderato.
Nem sempre se tem vontade de aludir à esperança que nos roubam.
Acontece acabrunhar-se o domínio da ilusão.
Falar de quê nesses dias?

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Os cisnes




Domingo morno. Primaveril domingo. Lá fora ouvem-se pássaros a chilrear e os gritos dos pavões anunciam a época de acasalar.
Assomo à janela e há dezenas de automóveis estacionados à porta do meu jardim. Jovens com meninos e meninas pela mão, bebés nos seus carrinhos de passeio e avós acompanhados de netos. É uma procissão de vida que se abeira da relva, do lago com tartarugas e patos (que o pão duro cá de casa tantos anos alimentou), dos escorregas e dos baloiços.
Pela algazarra, a esta hora os cisnes ignoram garbosos o pão molhado que flutua no lago.
Tempos de fartura.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Nada melhor que...

Nada melhor que acordar sem despertador,
não usar relógio,
ter tempo para o amor,
usar ténis,
preguiçar,
dormir tarde,
jiboiar.




sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Estamos ...

Estamos, literalmente, lixados.
Não me peçam contenção na linguagem. Se ma pedirem falo pior.
Estamos, positivamente, tramados.
O que nos espera é peste, fome e guerra.
Estamos, efectivamente, derrotados.
Recessão, seca, desemprego, amarguras.
Estamos, progressivamente, empobrecidos.
Seremos rotos, desdentados, desgrenhados e sujos.
Estamos, obviamente, fo...




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Cinderela

Descobri que está na altura de mudar de vida.
Quatro a cinco horas de sono por noite deixaram de me chegar. E como o que não tem remédio, remediado está, d'ora em diante aqui a "je" vai passar a respeitar o relógio. Olé. Esse instrumento que serve para medir o tempo vai passar a ter uso cá para a menina.
Qual Cinderela, até à meia-noite em ponto, tenho de estar na caminha, antes que me transforme numa desgrenhada e olheirenta Gata Borralheira.





Zeca

Neste dia em que se assinala o 25º aniversário da partida de Zeca Afonso deixo aqui a minha homenagem ao homem verdadeiro e simples, ao impar artista e ao enorme interventor social.
Zeca precisamos de ti.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Masquerede

Bobo, rei.
Rainha, aia.
Cordeiro, lobo.
Pirata, padre.
Varina, bruxa.
Perneta, pernalta.
Polícia, ladrão.
Macaco, urso.
Sereia, palhaço.

Quem és hoje?


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Terras de Viriato

Andei uns dias por terras de Viriato. Trouxe de lá o coração quentinho de tantos carinhos, mas também vim carregadinha de gripe. Aquelas paragens, nesta época, são mesmo geladas, safa!
Acho que só lá torno quando estiver mais quentinho.


O amor é uma coisa, a vida é outra

Só um Mundo de Amor pode Durar a Vida InteiraHá coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. 

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixonade verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. 

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. 

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. 
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? 

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. 

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. 

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. 
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Expresso'


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

No Carnaval ninguém leva a mal

Acabou o Carnaval, de vez.
Com o semblante que se lhe conhece para todas as ocasiões, foi dizendo que obviamente não haveria Carnaval para todos. Poderia haver Carnaval para alguns, mas não para todos.
Anuncie-se o que se anunciar, há que manter a firmeza.
 "Firme e hirto, como uma barra de ferro"diz-se alto, e bom som, que os objectivos traçados hão-de ser alcançados "custe o que custar". Ao menos às vezes, convinha que o senhor brincasse ao Carnaval e que, apesar da sua demonstrada insensibilidade, tentasse fingir importar-se com as pessoas.
Tanta crueza magoa. Aqui fica a proposta, caro primeiro.


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A avestruz

De cabeça enterrada cá vou feliz e contente assistindo com espanto ao filme da crise do sistema financeiro (seja lá isso o que for) em que nos movemos.
Ontem ouvi dizer na rádio que o risco de bancarrota deste cantinho Ocidental da Europa é superior a 70%. Superior a 70%! Mais um bocadito e lá chegamos à meta: 100%.
A par disto soube esta manhã, logo ao despertar, que os países da União Europeia que não respeitarem a regra, que vai ser escrita na pedra, de não ultrapassar os 0,5% de déficet, vão sofrer sanções automáticas. Ora aí está uma ideia esperta, quando o desejável limite de 3% não se tem conseguido respeitar.
Ai que confiantes nos sentimos com os resultados das inúmeras cimeiras dos nossos grandes lideres políticos, que se têm revelado tão certeiros na adopção de medidas tendentes à resolução da crise da dívida pública dos países do Sul da Europa (huummm...pensando bem os do Norte também estão pelas ruas da amargura, Irlanda e tal..., a França já vai vendo os seus três A girassol em queda...).
Mas está bem, castiguem-se os incumpridores que ultrapassem a tal meta dos 0,5 % de déficet. Cá por mim, até posso avançar a pena: umas vergastadas em praça pública nos membros dos Governos dos países desobedientes.
Sugiro que se instale um pelourinho em Bruxelas, na Grand Place.
Vou cativar um bom lugar numa esplanada para assistir ao espectáculo.

domingo, 22 de janeiro de 2012

££££, $$$$, €€€€, dinheiro, pilim, taco, cacau, guito, papel...

A crise torna a vida mais difícil, olá se torna. Há que conter as despesas já que o pilim é menos. Os portugueses têm de se habituar a viver com o que têm (melhor dizendo, com o que não têm) e ainda fazer umas poupançazitas para a doença e a velhice, que o Estado Social já era. Estes pilantras pelintras têm andado a gastar mais do que podiam. Toca a habituar à pobreza, seus malandros.
Tem sido este o discurso de que nos empanturram.
Paternalmente, passando a mensagem supra, há poucos meses, o nosso grande líder dizia que sempre fora poupado e que, ainda agora, só gastava metade do que auferia. Na altura fiquei chocada com a declaração, pois não me pareceu grande proeza o que fazia. Ter pensão de menos de €300 e poupar metade é que é façanha, mas para quem tinha €10 000, nem por isso.
A seguir lá veio o senhor com o choradinho da pensão da Maria, que era baixinha, que tinha de sustentar a esposa e tal...
Apresentou-se agora com novo discurso: pobre de mim, as minhas pensões são tão baixinhas que não me dão para os gastos, shuiff, shuiff...
Desculpem a falta de originalidade no coro de protestos e de piadas sobre o assunto, mas não consigo evitar. O senhor estará bem? Já alguém terá equacionado sobre a sua falta de sanidade mental?
Numa altura em que grande parte das pessoas deste país não têm emprego, em que a protecção social dos mais vulneráveis cai a pique, em que há pensões de valores irrisórios, vem o Presidente queixar-se, para a comunicação social, que afinal já não poupa e que o que recebe não lhe dá para as despesas.
Não há palavras. O homem só pode estar louco.
Senhor Presidente e se tivesse o bom senso de guardar a sua vida privada para a esfera do privado? Organize-se como puder e deixe-se de fazer escândalo na praça pública.
Queremos lá saber se o seu rendimento lhe chega para as despesas ou não.